Colaboração: Paulo Reis - Jornalista
Na tarde de 29 de agosto, o Centro de Progressão Penitenciária Feminino (CPP) “Dra. Marina Marigo Cardoso de Oliveira”, do Butantan, na capital paulista, recebeu uma palestra em formato de peça teatral sobre violência doméstica. A iniciativa integrou as ações do Agosto Lilás, mês de conscientização sobre o tema.
A atividade foi conduzida pela advogada Ivy Farias, voluntária da unidade com o projeto Letra Materna. Segundo ela, a inspiração surgiu a partir do pedido de uma reeducanda. “A Lei Maria da Penha diz, no artigo 8º, que é dever do Estado e da sociedade civil promover a educação e prevenção sobre a violência contra a mulher. Quando ela me perguntou se eu poderia dar uma palestra, vi uma oportunidade única de aplicar este dispositivo para mais de 850 mulheres”, explicou.
Seguindo orientação do servidor Agostinho Mariano Fernandes, da Fundação “Prof. Dr Manoel Pedro Pimentel”, que sugeriu uma dramatização, a advogada escreveu a peça teatral Ira Íntima, em que os cinco tipos de violência contra a mulher no ambiente doméstico são demonstrados de uma maneira artística e, ao mesmo tempo, didática.
Os atores amadores Laurrie Reis e Luís Piva deram vida à Tereza e Gonzalo, um casal que tem sua história marcada pela violência. "A arte tem uma importância social e, como ator, tenho que ir aonde o público está", acredita o ator. "Fazer um espetáculo sobre a violência contra a mulher para uma plateia exclusiva de mulheres é uma grande responsabilidade. De certa forma é uma grande honra fazer parte disso", completa.
Já a atriz Laurrie Reis explica que as mulheres precisam de textos como estes. "O teatro é fundamental para conscientizar. A arte tem o poder de modificar realidades e tenho certeza que esta peça vai fazer as mulheres refletirem", pontua. Para ela, a peça mostra até onde a violência pode ir. "E, para o público, é importante saber onde começa".
A Chefe do CPP Jucelia Goncalves da Silva destacou que “durante o momento de diálogo após a apresentação, muitas compartilharam experiências e percepções, evidenciando que a violência doméstica é uma realidade ainda presente e dolorosa em suas trajetórias de vida”. Ela ainda pontuou que “esses relatos reforçam a importância de promover ações que contribuam para a conscientização, o fortalecimento da autoestima e a reconstrução dos vínculos sociais dessas mulheres. Agradecemos à Dra Ivy Farias pela iniciativa e reiteramos o compromisso do CPP de Butantan com projetos que promovam a dignidade, a reflexão crítica e a transformação social das pessoas privadas de liberdade."
Cinco tipos de violência
Segundo a Lei Maria da Penha, são cinco os tipos de violência contra a mulher: física, moral, sexual, psicológica e patrimonial. A palestra enfatizou especialmente os tipos menos conhecidos, após uma reeducanda relatar que muitas colegas acreditavam que violência se restringia apenas à agressão física.
"Isso me motivou a preparar um material especial quando ela me falou", conta a advogada. Para ela, os números da violência contra a mulher são alarmantes e a única maneira de mudar este cenário é com a educação. "Creio que esta palestra vai ser relevante para a vida das reeducandas quando estiverem reinseridas na sociedade", disse.
Encenação artística retrata os diferentes tipos de violência contra a mulher