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22/04/19 | Assessoria de Imprensa - SAP

No Dia Mundial do Livro, escritores brasileiros destacam importância da leitura para presidiários

Autores de títulos lidos por reeducandos de penitenciárias paulistas compartilham opinião de que formar leitores é fundamental na ressocialização

A escrita mais afinada, o ganho de repertório na linguagem e a melhor compreensão do mundo são alguns dos benefícios garantidos pelo hábito da leitura. Mas, para pessoas privadas de liberdade, estes valores se tornam ainda mais relevantes. Neste dia 23 de abril, Dia Mundial do Livro e do Direito do Autor, escritores que possuem obras lidas por reeducandos do sistema penitenciário paulista são unânimes em ressaltar estes impactos.

Lucrecia Zappi, argentina que cresceu no Brasil, hoje vive nos Estados Unidos. Mas, no ano passado, em uma visita por aqui, recebeu o convite de conhecer na prática o Programa de Incentivo à Leitura “Lendo a Liberdade”, iniciativa que articula Clubes de Leitura dentro dos presídios do Estado de São Paulo. Sua obra “Acre”, finalista do prêmio Jabuti 2018, é uma das escolhidas para circular pelas unidades prisionais, onde além de lida, é também debatida e objeto de resenha crítica por parte dos integrantes dos Clubes. Cada texto pode significar até quatro dias a menos na pena do preso.

‘‘Depois das visitas, fiquei com isso na cabeça, pensando no efeito da leitura nas penitenciárias. Qualquer estímulo intelectual só pode resultar em efeito positivo, não só porque o lugar é de confinamento físico, mas também porque o exercício da verdadeira liberdade não é apenas respeitar o espaço do outro, mas compreender o que torna o outro único, e isso só se dá, a meu ver, pela troca de experiência. Por isso acho que a literatura nas penitenciárias tem o poder de provocar mudanças profundas. Colocar-se no lugar de um personagem é colocar-se no lugar do outro e colocar-se no lugar do outro é se situar no mundo’’, afirma a escritora.

Premiado escritor, Luiz Ruffato escreveu em diversos jornais até encontrar a literatura. “De Mim Já Nem se Lembra” é o título que integra o cardápio literário dos reeducandos. O autor mineiro concorda com Zappi sobre o poder empático da leitura, especialmente falando de presidiários.

“Quando a literatura proporciona essa empatia, ou seja, quando ela nos coloca em outro lugar, convivendo com outras realidades, ela nos mostra algo que, embora seja óbvio, muitas vezes não nos damos conta: a de que só existimos porque o outro nos diz que existimos. Sozinhos, não existimos. E a literatura tem essa capacidade, mais que todas as outras artes, porque, quem experimenta vivenciar a dor do outro, passa a ter com o outro uma relação de maior respeito, porque o outro é a garantia da nossa existência”, explica Ruffato.

Outra escritora que também conheceu, recentemente, as práticas pró-leituras para pessoas privadas de liberdade é Martha Batalha. No ano passado, ela participou de debate no Centro de Progressão Penitenciária "Prof. Ataliba Nogueira" de Campinas sobre seu livro “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, finalista do prêmio São Paulo de Literatura. Ela ressalta a importância de garantir a leitura enquanto direito.

“O Clube proporciona aos detentos esta parte tão sutil da dignidade, que não é o direito ao trabalho ou à comida, mas o direito a pensar, a se perder dentro de um livro, a de sentir prazer com uma atividade que historicamente sempre foi considerada como sendo apenas de elite”, diz Batalha.

Recém chegado ao mundo dos literários, o ator Caco Ciocler escreveu Zeide, livro ficcional inspirado na trajetória da própria família judaica no Brasil. Em dúvida sobre a alcunha de escritor, ele destaca os poderes da leitura.

“A leitura tem o poder de levar a alma das pessoas para passearem fora de seus presídios íntimos. Pode fazê-las sonhar, apaixonar-se, sentir empatia pela dor e pela alegria de pessoas que nem sequer conhecem. A leitura desenvolve a imaginação, cria sonhos, alimenta esperanças, desenvolve empatia, repito. Eu não consigo pensar em nada mais amoroso para um detento do que oferecer-lhe a possibilidade da leitura”, destaca o ator.

Sobre o Programa de Incentivo à Leitura - “Lendo a Liberdade”

A Fundação ''Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel'' - Funap, órgão vinculado à Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), incentiva a formação de leitores por meio do Programa de Incentivo à Leitura- ''Lendo a Liberdade'', política pública de Estado que articula projetos, com os mais de 100 Clubes de Leitura instalados em unidades prisionais paulistas. Neste primeiro trimestre do ano, foram realizados quase quatro mil atendimentos nas 173 unidades prisionais de São Paulo.

Cada Clube de Leitura envolve, em média, 20 reeducandos. Em cada mês, o reeducando é convidado a ler um título, participar de debates sobre a obra com os demais membros e, ao final, desenvolver uma resenha crítica, que poderá render a remição da pena. Um texto aprovado pode significar até quatro dias a menos no cárcere.

A ação é uma iniciativa desenvolvida pela Funap e SAP em parceria com a Academia Paulista de Letras (APL).

Assessoria de Comunicação e Relações Institucionais
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