23/01/12 | Veruska Almeida - Assessoria de Imprensa - SAP

"Tenho em mim todas as faces do mundo"

Peça de teatro apresentada na Penitenciária Feminina da Capital transgride as barreiras do tempo e do preconceito

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As oito reeducandas se apresentaram com atores da Cia. Coexistir de Resignificações Teatrais

Ano de 2005: nasce na Penitenciária Feminina do Tatuapé, o Projeto “Teatro Intra-muros - uma proposta artístico-psico-pedagógiga – uma forma de liberdade psíquica no cárcere”. No ano seguinte, uma pausa: desativação, aulas, mestrado. Em 2008 um novo convite, agora na Penitenciária Feminina da Capital, a retomada; novas histórias. Dezembro de 2011, uma apresentação, oito presas, oito fábulas, a continuação.

Foi com a peça “Nasci para bailar”, de Hugo Sanches, que se encerraram as apresentações culturais de final de ano na Penitenciária Feminina da Capital. Oito reeducandas apresentaram suas fábulas com atores da Cia. Coexistir de Resignificações Teatrais. Dirigidas pela psicóloga e diretora de teatro, Patrícia Teixeira, as atrizes alunas puderam contar um pouco de suas histórias pessoais para uma plateia que, não só se emocionou, como entendeu a fundo as narrações apresentadas.

Com quatro anos de existência nessa unidade, o projeto que também ganhou menção honrosa pela participação no Concurso Prêmio Nacional de Boas Práticas, promovido pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), já atingiu cerca de 60 alunas.

O processo tenta viabilizar através do teatro, o contato com a arte da representação, profissionalizar as detentas em técnicas e métodos, ao mesmo tempo em que tenta encaminhá-las ao encontro dos diversos personagens que existem dentro de cada ser, ou seja, dar-lhes voz.

Para a diretora Patrícia Teixeira, a arte tem um papel transgressor, no sentido criativo, tanto na esfera psíquica, quanto social; quebra barreiras, traz novos paradigmas. “O teatro, que desenvolvo e acredito, serve como ferramenta de conscientização psíquica e social”, relata.

A máscara caiu (...), a vida de faz-de-conta se transforma em realidade, repleta de medo, angústia, solidão. (...) Quem é ela? Quem sou eu? Tenho em mim todas as faces do mundo. (...) Sai de mim uma personagem, mas essa é a minha realidade ”
Por Patrícia Teixeira

Ainda para a diretora, o importante é o processo de trabalho, não o produto final. “O mais importante é o que elas assimilaram, enquanto possibilidade de contato, elaboração e resignificação interior e de vida e, também, como chance de se inserirem no mundo da cultura e do teatro”, completa.

Na apresentação cada reeducanda viveu sua própria fábula, narrando a história de uma personagem que na verdade eram elas mesmas. Cada texto propôs fazer a correlação entre suas vidas pessoais e momentos da história do mundo que marcaram suas épocas, do nascimento até os dias atuais.

As várias nacionalidades proporcionaram a todos os presentes um universo de miscigenação cultural e ideológico. De Mandela à Ditadura Militar, do homossexualismo ao nascimento de um filho, essas mulheres puderam transgredir as barreiras do tempo e dos preconceitos em prol da arte.

“É especial vê-las entrando em contato com suas potencialidades e poderem se tornar protagonistas da própria vida, a partir do momento em que conseguem expressar a forma mais genuína do ser e elaborarem efetivamente tudo de bom que a vida ainda tem a oferecer”, reflete Patrícia.

A peça foi encerrada com a fábula escrita pela própria diretora e apresentada pela personagem principal: Dora Menezes. “A máscara caiu (...), a vida de faz-de-conta se transforma em realidade, repleta de medo, angústia, solidão. (...) Quem é ela? Quem sou eu? Tenho em mim todas as faces do mundo. (...) Sai de mim uma personagem, mas essa é a minha realidade”, por Patrícia Teixeira.

Emocionadas as detentas acreditam na oportunidade de continuarem desenvolvendo o projeto que lhes proporciona um grande aprendizado. Em 2012 serão novas fábulas, novas peças, mas uma coisa é certa: no retorno à suas celas essas mulheres continuarão a sonhar com uma nova vida, com uma nova história na sociedade.