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16/03/17 | Sonia Pestana – Coremetro

O poder transformador do trabalho na prisão

Empresas instaladas em unidade prisional formam mão de obra especializada e mudam a rotina de vida de muitos sentenciados

Nos amplos espaços do Centro de Progressão Penitenciária (CPP) de Franco da Rocha, unidade da Coordenadoria da Região Metropolitana de São Paulo (Coremetro,) vinculada a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), estão instaladas empresas dos ramos de reciclagem de plásticos, confecção de ombreiras e peitorais para paletós e fabricante de contêineres. Juntas, elas empregam cerca de 100 reeducandos, ao mesmo tempo em que cerca de 250 outros presos saem para trabalho externo em inúmeras empresas da região.

Há três anos instaladas no CPP, a Plásticos Progresso e a Star Lix trabalham com reciclagem de plásticos, a exemplo de sacolas, plásticos bolhas, sacarias e demais resíduos. Em média, cada empresa processa 10 toneladas de material por semana, trabalho este feito por cerca de 30 sentenciados.

Na Plásticos Progresso, segundo o proprietário da emprensa, José Carlos da Mota, cabe aos sentenciados processar a separação do material que chega de cooperativas externas ou do ramo industrial, como também controlar toda a linha de produção que inclui moagem, filtro e transformação de pó em pasta plástica até chegar aos grãos para ensacamento. De acordo com ele, esse ramo dá a oportunidade de desenvolver a atividade durante todo o ano, desde que haja dedicação e um trabalho de qualidade, lição que procura passar aos sentenciados que prestam serviços em sua oficina.

Mudança de vida

Em outro segmento de trabalho está a Comercial Up Espuma, que mantém linha de produção de ombreiras e peitorais para paletós e ternos há 30 anos no CPP de Franco da Rocha. Com uma carteira de clientes que inclui grandes fabricantes de ternos do Brasil, a empresa emprega atualmente 12 sentenciados que são responsáveis pela produção mensal de 32 mil kits de ombreiras e peitorais, além de cerca de 30 mil ombreiras avulsas.

O sentenciado A.T.S. está há sete meses na produção da Up Espuma. Ele revelou que o trabalho o mantém ocupado, agrega disciplina à rotina diária e contribui para melhorar sua imagem junto ao filho, que já fala para professores e colegas de escola sobre a nova ocupação do pai. O sentenciado afirma que essa mudança de vida também teve reflexões positivas em outros assuntos familiares, como oficializar a união conjugal com a sua companheira de anos.

Trabalho especializado

Com uma produção de 100 contêineres por mês, a empresa AOX do Brasil mantém, há mais de três anos, oficinas de produção no CPP de Franco da Rocha. Hoje emprega em torno de 40 presos, dependendo da demanda de mercado.

Segundo o gerente regional da AOX no CPP, José Antonio Franco, a empresa mantém maquinário de última geração na unidade de Franco da Rocha capaz de atender todo o processo de produção, desde o corte até a hidráulica. De acordo com ele, nesses três anos que a empresa está instalada na unidade prisional, mais de 300 sentenciados prestaram serviços, dentre esses muitos não contavam com experiência anterior na área. “Independente do conhecimento prévio, se o preso tem vontade de trabalhar, ele vai para frente, porque investimos na formação de mão-de-obra especializada”, garante Franco.

Ao longo desses anos, Franco relata que a AOX veio se especializando na fabricação e manutenção de contêineres para construção civil. Eles são utilizados em canteiros de obras, com modelos para escritório, depósito de material, sanitários para operários e até para estande de vendas. Nesse tempo de trabalho no sistema prisional, o gerente afirma que alguns sentenciados mostraram muito profissionalismo, conquistando sua confiança e admiração. “Dois sentenciados, em especial, deixaram um bom nome, um deles foi meu braço direito na oficina do CPP e outro se ocupava da elaboração de projetos de novas unidades de contêineres, ambos tinham algo em comum, garra e vontade de trabalhar”, recorda.

Mão de obra carcerária

Por se tratar de um Centro de Progressão, onde os sentenciados estão no regime semiaberto, a rotatividade de trabalhadores é grande. Mesmo assim muitos reeducandos não abrem mão da oportunidade de aprender e trabalhar na empresa. Um exemplo disso é o sentenciado A.C.S., de 34 anos. Eletricista com formação e prática em subestação primária e secundária, ele considera o trabalho na AOX uma ótima oportunidade dentro do sistema prisional. “Aqui posso multiplicar meus conhecimentos em outras áreas, ao mesmo tempo em que preencho o meu dia com coisas boas”, explicou.

Apesar de estar há pouco mais de sete meses no CPP, ele relata com orgulho que conseguiu ensinar o ofício para outros três sentenciados. Em seus planos está montar uma empresa de manutenção, quando estiver em liberdade.

O mesmo empenho pode ser notado no sentenciado G.V. Por estar no sistema prisional há mais de 23 anos, o preso ganhou habilidade para trabalhar nas mais diferentes funções. De acordo com ele, a experiência e a vontade de trabalhar já lhe renderam condições de construir duas casas no terreno da família. “Trabalhar é bom! ”, garantiu o reeducando.

aasassa
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