16/12/11 | Veruska Almeida - Assessoria de Imprensa - SAP

Feira Cultural 2011 muda, mais uma vez, a rotina de presos em Guarulhos

Em sua 5º edição o evento teve como tema o Diálogo

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Alunos do curso de Kit Festa apresentam seus quitutes

Pode até parecer irônico, mas foi em função da luta contra a “evasão escolar” dentro das prisões que surgiu a ideia de promover uma feira cultural, na qual os presos pudessem reconhecer os benefícios que o estudo pode trazer às suas vidas. Não apenas na remição da pena (a cada 12 horas de estudo um dia de remição), como para um modo de interação e reintegração social.

Nos dias 6, 7, 8 e 9 de dezembro, a Penitenciária “Dr. José Parada Neto” de Guarulhos realizou mais uma edição da Feira de Arte, Ciências e Cultura, ou melhor, da sua já conhecida “Feira Cultural”. O evento que ocorre na unidade desde 2007 é uma iniciativa do setor de educação da unidade e reeducandos, com o apoio da Vara de Execuções Criminais de Guarulhos (VEC), Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” (Funap), do Instituto de Biologia Marinha e Meio Ambiente (IBIMM) e da sociedade civil.

Cada evento que ocorreu em anos anteriores abordou um tema, geralmente sugerido e escolhido por todos os envolvidos. Nas quatro últimas edições do evento, os temas foram: 2007 – Tema geral com ênfase na área de ciências; 2008 – Meio Ambiente; 2009 – Tabagismo, DST / AIDS; 2010 – Tráfico de Animais Silvestres e em 2011, Diálogo foi o tema escolhido.

Para o reeducando Fábio Lopes (um dos idealizadores da feira), o tema deste ano é bastante pertinente ao contexto da Feira Cultural. “Em uma proposta desenvolvida ‘dialogando o sistema prisional’, foi discutido que existe a necessidade de se levar ou trazer à tona, assuntos de diferentes temas atuais e de suma importância no cotidiano de cada indivíduo”, diz Lopes.

O Hino Nacional Brasileiro e a canção “Dê o seu melhor”, interpretados pelo coral da unidade abriram o primeiro dia do evento que contou também com apresentações de teatro, músicas, atividades circenses, premiações no concurso literário para servidores e reeducandos e certificação dos cursos de Panificação, Kit Festa e montagem de Micro Computador.

Feira das emoções

Porém, o que emocionou a todos os presentes foram os depoimentos de egressos e participantes desse ideal. Para Matheus Dias, que esteve preso durante dois anos na unidade e teve a pena perdoada para que pudesse participar de projeto universitário, as portas se fecharam, lhe apontaram o dedo, mas a vida não acabou, talvez seja difícil seguir em frente, mas nem todas as portas estão fechadas. “Todos vão ter a oportunidade de ser feliz. Basta que lutem, se esforcem e jamais desistam, mas vocês [sociedade civil] não desistam deles, porque vai ser esse um que não volta, que fará a diferença”, reflete Dias.

O juiz da Vara de Execuções Criminais, Jayme Garcia dos Santos Júnior, também esteve presente e foi lembrado por todos pela sua dedicação à questão carcerária. “Sempre acreditei e acredito que o cárcere não pode ser apenas um local de mera retenção de pessoas”, declara. Para o juiz, o aprisionamento pode e deve ser um ambiente onde o sentenciado entenda sua pena e que tenha o objetivo de fazê-los adquirir valores morais e novos ideais de vida.

Ainda para Jayme Garcia, os agentes penitenciários são primordiais para esse processo, pois com espírito de empreendedores e de forma corajosa entraram de maneira definitiva e direta na busca pelo resgate da condição de ser humano dos presos.

Após a abertura do evento reeducandos e convidados visitaram a feira, em que se pode ver diversos trabalhos desenvolvidos pelos detentos, degustar os quitutes produzidos pelos alunos do Kit Festa, entender um pouco mais sobre algumas espécies marinhas, entre outra diversas atividades.

O segundo dia do evento foi aberto para visitação dos familiares e no terceiro os reeducandos de outros raios puderam apreciar a exposição. No último dia de programação, e para marcar o encerramento da Feira Cultural de 2011, grupos de 250 sentenciados assistiram as exibições dos filmes “Lisbela e o priosioneiro”, “Quincas Berro D’água” e o “Bem Amado”.

As sessões de cinema, que ocorreram pela primeira vez em 2010, fazem parte do projeto Cine Tela Brasil idealizado pelos diretores, do longa “Bicho de sete cabeças”, Laís Bodansky e Luiz Bolognesi. As exibições de 2011 ainda contaram com a visita do cineasta José Mojica Marins, o famoso Zé do Caixão, que durante 25 minutos conversou com os presos.