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17/11/16 | Sonia Pestana – Coremetro

Projeto Resiliência no Cárcere capacita presas transexuais a dar a volta por cima das dificuldades da vida

A Secretaria da Administração Penitenciária, após quatro meses de aulas, promoveu a formatura da primeira turma do Projeto de Resiliência com o CDP II de Pinheiros

Enquanto os servidores do Centro de Detenção Provisória II (CDP) “ASP Willians Nogueira Benjamin” de Pinheiros arrumavam as lembrancinhas, oito reeducandas transexuais davam os últimos retoques na maquiagem nos bastidores do evento de formatura da 1ª turma do Projeto de Resiliência no Cárcere.

Segundo a diretora de saúde do CDP, Eliane de Souza, esta é a primeira turma formada dentro do sistema prisional no projeto focado na resiliência para as presas transexuais. A psicóloga, Andréia Correia Manicard, e a assistente social, Giselle Perugini, são as responsáveis pela ação. O termo resiliência intitula o projeto desenvolvido com as reeducandas transexuais. Para elas, o curso enfoca a habilidade de lidar e superar as adversidades e transformar experiências negativas em aprendizado e oportunidades em mudanças, com o objetivo de "dar a volta por cima".

Com apoio da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) e da direção da unidade, o projeto Resiliência no Cárcere vai ao encontro da Resolução SAP-11, de 30 de janeiro de 2014, que dispõe sobre a atenção às travestis e transexuais no âmbito do sistema penitenciário. O documento inova em integrar um conjunto de princípios e medidas no atendimento desse público.

Apesar de os trabalhos atuais estarem focados nas reeducandas transexuais, está, nos planos da equipe técnica, expandir a ação aos outros presos do CDP.

Para as profissionais de saúde, o ser humano que se encontra em privação de liberdade passa por um processo de reconhecimento de si no espaço onde vive e no universo que o espera. Nesse contexto, a resiliência é algo que tem de ser aprendido ao longo da vida, já que, segundo Andréia, não se nasce resiliente. Por isso, a atitude mental frente às adversidades é uma das primeiras lições para construir uma boa resiliência psicológica.

Relatos de vida

As participantes da 1ª turma do projeto, a partir de seus nomes sociais, fizeram relatos breves sobre a resiliência em suas vidas.

Natasha, carioca de 22 anos, revelou que aprendeu a lidar com suas dificuldades logo aos 4 anos de idade, quando perdeu uma perna num acidente de trem. Mais tarde, em outro momento de sua vida, também teve de ser resiliente ao lidar com seu gênero. “Mesmo nesse lugar, no CDP Pinheiros II, sei que há, lá na frente, um recomeço”.

“Todo dia, ao levantar, tomo decisões e, ao deitar, vejo o que fiz”, resume Duda ao se referir à frase que representa a vida das transexuais do curso de resiliência. Segundo a reeducanda, a formiga é um bom exemplo, pois persistem, resistem e vencem.

Nos depoimentos apresentados, as participantes relataram que o curso deu esperança para muitos. “Quando fui privada de liberdade, por erros que cometi, parecia que tudo estava perdido, mas hoje estou cheia de ideias para ajudar os outros”, revelou Leona.

Tamara destaca que antes do curso não sabia resolver conflitos, mas que agora é mais fácil. “O que aprendi, levo para toda a vida”, disse. Durante o curso de resiliência, a meta estabelecida envolvia elaborar um diário de gratidão. Para Jhully, outra presa, os registros do dia a dia, mesmo que turbulentos, mostraram que sempre há coisas boas.

A partir do aprendizado adquirido, as integrantes da 1ª turma relataram que mudaram seu modo de agir, a forma de pensar, a maneira de trabalhar em grupo e também as escolhas de vida. “O segredo está em entender que tudo depende de nós, já que o passado, realmente, já passou, o presente é o agora e o futuro começa a cada segundo”, resumiu Jhully.

A cerimônia de entrega dos certificados foi acompanhada pelo diretor geral da unidade, Guilherme Silveira Rodrigues. O evento também contou com a presença do superintendente da Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” (Funap), Durval Luiz da Silva, da Supervisora de Ensino da Diretoria Regional de Ensino Centro-Oeste, Marineila Marques, e das representantes do Grupo de Diálogo Universidade-Cárcere-Comunidade (Gducc), Isabel Hamud e Natália Macedo.

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