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29/08/16 | Sonia Pestana – Coremetro

Ações voltadas ao servidor norteiam projetos nas Penitenciárias I e II de Franco da Rocha

Profissionais da saúde orientam funcionários e promovem dinâmicas de interação

Com foco no servidor, por meio da valorização do capital humano e do cuidado dos seus diferentes sentimentos (depressão, ansiedade e estresse), duas ações ganham atenção e promovem reflexões nas Penitenciárias I “Mário de Moura e Albuquerque” e II “Nilton Silva” de Franco da Rocha.

Cuidando do cuidador

A psicóloga Alessandra Soares Monteiro, da Penitenciária “Mário de Moura e Albuquerque”, promove, há cerca de dois meses, encontros semanais com servidores, com objetivo de estreitar relacionamentos e promover a empatia. Denominada “Cuidando do cuidador”, a ação visa valorizar o capital humano da instituição.

Segundo ela, o projeto enfoca o ser humano por trás de cada funcionário. “Os servidores são o que se tem de mais valioso dentro da instituição. Eles são os cuidadores que fazem o trabalho acontecer”, destacou.

Em suas abordagens, a psicóloga estimula a interação entre os participantes ao mesmo tempo que incentiva o autoconhecimento. A partir de amplo leque de atividades, Alessandra escolhe a ação somente quando se senta com o grupo, assim, o elemento surpresa aumenta a adesão ao projeto, já que a participação dos servidores é voluntária.

Nesses encontros, os participantes podem ser questionados, por exemplo, sobre suas inquietações ou algo que os aflige. Como resposta aos estímulos, eles apresentam fatos marcantes de suas vidas, desconhecidos de muitos dos presentes.

Em outra abordagem, os servidores são convidados a resumir seus pontos fortes. Muitos têm dificuldades para enxergar alguma qualidade em sua personalidade. Para Alessandra, isso prova que, muitas vezes, as pessoas não param para pensar nelas mesmas. Como resultado, as dinâmicas resgatam a autoestima, promovem conversas acaloradas, agregam novos valores e unem a equipe.

Na opinião de agentes de segurança penitenciária (ASP) que participaram das dinâmicas, a exemplo de Shirley de Souza Moreira da Silva, Nelson Cerqueira e Dejaelson Severino da Silva, a iniciativa é bem-vinda. “Considero essa ação uma excelente oportunidade para conhecermos melhor nossos companheiros de trabalho”, destacou Shirley.

Para Cerqueira, a iniciativa é muito boa. “São atividades desenvolvidas por profissionais que vivem a nossa realidade no sistema prisional” revelou e acrescentou que, por isso, são mais significativas. Silva foi além. “As ações visam à integração dos servidores e resgatam o valor do profissional perante a classe”, explicou.

A psicóloga planeja trabalhar de forma diferenciada com os agentes de escolta e vigilância penitenciária (AEVPs). Essas ações devem acontecer na segunda quinzena de agosto, quando serão desenvolvidas atividades específicas para essa classe de profissionais, que possuem normas e rotinas de trabalho específicas no sistema prisional.

O projeto contou com apoio do diretor da unidade prisional, Marco Aurélio Cardoso de Almeida, e colaboração da psicóloga da Central de Atenção ao Egresso e Família (Caef) de Marília, da Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania (CRSC), Mônica Crude, para concepção da ideia e sugestões de atividades.

Saúde no cárcere

Há um ano, a psicóloga Érica Enéas Rodrigues, da Penitenciária “Nilton Silva” iniciou projeto voltado para a psicoeducação, mas foi a partir de maio deste ano que a ação ganhou um novo olhar. Por meio de parcerias, Érica teve a ajuda da enfermeira, do Instituto Acqua, Débora Oliveira Cerazza Ferreira, para trabalhar com a prevenção de doenças físicas: como diabetes, hipertensão e gripe, e também psíquicas: a exemplo de depressão, ansiedade e estresse.

Dessa união nasceu o projeto “Saúde física e mental no cárcere”. A ação reúne servidores da unidade por meio de palestras, dinâmicas de grupo e teatro. Com foco na saúde mental, Érica destacou que o ritmo de vida atual favorece o aparecimento de doenças. Bons exemplos disso, segundo ela, dizem respeito ao excesso de referências do passado como causa da depressão, a preocupação exagerada com o presente como fator de estresse e a insegurança quanto ao futuro desencadeador de ansiedade.

Para explicar o desgaste da vida no dia a dia, a psicóloga menciona pensamento do fundador da psicanálise, Sigmund Freud, para o qual os indivíduos são feitos de carne, mas têm de viver como se fossem de ferro. Segundo ela, é necessário saber lidar com as pressões diárias, já que o estresse pode ser útil, pois prepara a pessoa para a sobrevivência, mas, se em excesso, traz-lhe prejuízos.

Para exemplificar de forma prática as pressões a que o servidor está sujeito, Érika coordenou apresentação teatral de uma ação rotineira da unidade prisional. A intenção foi demonstrar que todos estão sujeitos às adversidades do trabalho e ao pré-julgamento de outras pessoas. Segundo a psicóloga, essas realidades podem resultar na depressão, estresse e ansiedade, razão pela qual deve ser questionada e refletida a participação de cada um nesse cenário.

Durante a dinâmica, Érika alistou possíveis formas de diminuir o estresse. Ela destacou, por exemplo, ações como aprender a dizer não, conhecer os próprios limites, não querer controlar o incontrolável, aprender a perdoar, partilhar sentimentos, dentre outros.

O programa “Saúde física e mental no cárcere” é oferecido uma vez ao mês aos servidores. A ação também foi estendida aos sentenciados, cuja participação semanal atinge o número de 60 presos. A exemplo do que acontece na PI de Franco da Rocha, igualmente na PII, todas as ações têm o aval do diretor geral da unidade, Heber Rogério Bueno dos Santos, que acompanha as dinâmicas com especial interesse.

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