Texto normalContraste normalAumentar contrasteAumentar textoDiminuir texto Ir para o conteúdo

11/01/16 | Sonia Pestana – Coremetro

Presos têm aula de crochê em penitenciária de Guarulhos

As aulas são ministradas por artesãs



Os pontos altos e baixos da vida têm muito em comum com as técnicas aplicadas ao crochê. Nesse contexto, arte e vida se misturam e juntas inspiram 10 sentenciados da Penitenciária “Adriano Marrey”, de Guarulhos. O grupo faz parte do projeto Ponto Firme, do artesão e estilista pernambucano Gustavo Silvestre. A iniciativa do artista envolve trabalho com técnicas manuais e moda sustentável e foi estruturado com foco na valorização do artesanato brasileiro ao mesmo tempo em que desenvolve concentração, habilidade e potencial criativo dos alunos.

No curso de introdução, que teve início em dezembro, os sentenciados aprendem os pontos básicos que facilmente são assimilados e já podem ser vistos nas pequenas peças feitas durante as aulas práticas. Nesse processo, os altos e baixos da vida se misturam aos pontos do crochê, abrindo possibilidades e viabilizando antigos sonhos.

O sentenciado D.P.S. relatou que sua intenção é diversificar o aprendizado no artesanato, para ter ganho financeiro com as peças produzidas. “Minha ideia é não depender da ajuda dos familiares”, revelou.

Para Igor Rocha, Agente de Segurança Penitenciário (ASP), a pior coisa para um sentenciado é a humilhação por não fazer mais parte de uma sociedade produtiva. Por isso ele incentiva ações criativas na unidade com o propósito de ganhar espaços por meio da arte e, ao mesmo tempo, contribuir para melhorar autoestima dos sentenciados envolvidos nos projetos.

E.R.G., garantiu que sua participação nas aulas de crochê não causou preconceito em relação aos seus familiares e nem com os demais sentenciados do raio habitacional. Para ele, fazer parte do curso fez sua criatividade aumentar, além de contribuir para mantê-lo ocupado e focado com boas ações. Estão nos planos do sentenciado incrementar suas outras criações com pequenas peças de crochê.

Igual sentimento é compartilhado pelo sentenciado R.G.V. que garante não haver preconceito dos companheiros de cela. Ao contrário disso, ele ressalta que há incentivo, principalmente quando as peças artesanais vão ganhando forma. “Tenho o maior orgulho do meu trabalho porque ele tem reflexo direto lá fora, com os meus familiares”, desabafou.

Estrutura do curso

O curso é composto por três módulos: iniciação, intermediário e avançado, com total de 72 horas de aula em 24 encontros de 3 horas cada um. Ao final, os alunos que comparecem a 75% das aulas, recebem certificado emitido pela escola e loja Novelaria.

Todo o material didático é fornecido pelo projeto, incluindo agulhas especiais de crochê, linha, fios e apostila. A princípio, o Ponto Firme foi estruturado com módulos que incluem teoria e prática. No módulo 1 (iniciação), o aluno conhece a história do crochê e aprende os pontos básicos aplicados em peças simples. Já no intermediário o sentenciado aprende a ler receitas e aplicá-las na confecção de itens variados. E o módulo 3 está reservado às receitas avançadas, que servirão de base para a produção de peças que requerem técnica e criatividade.

O estilista Gustavo Silvestre desenvolve trabalhos de valorização do artesanato brasileiro através de projetos socioambientais por todo o país, envolvendo os mais diversificados públicos. Ele ministra cursos, oficinas e workshops na Escola São Paulo e Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) de Pernambuco. Consta em seu currículo a coordenação de desfiles de moda para São Paulo Fashion Week, Casa de Criadores, EcoEra e Cia Paulista de Moda, além de editoriais para as publicações Vogue, Elle e Key, entre outras.

Planos para o futuro

Estão nos planos do organizador do projeto Ponto Firme promover exposições dos trabalhos realizados pelos alunos ao final de cada módulo. A ideia é que essas mostras aconteçam tanto nas dependências da escola e loja Novelaria, como também na própria unidade prisional.

A longo prazo, Silvestre pensa em criar uma cooperativa para reunir artesãos do crochê, incluindo os alunos da penitenciária e os de outras instituições atendidas e a criação de uma loja virtual para a comercialização dos trabalhos.

Paralelamente, está em fase de desenvolvimento a criação de etiqueta identificadora que acompanhará cada peça produzida. A ideia é que haja um texto de apresentação do projeto, com breve relato dos objetivos, grupos envolvidos e dados do artesão responsável pela peça.

aasassa
Topo