14/12/15 | Sonia Pestana – Coremetro
O tema meio ambiente e sustentabilidade une alunos e professores num projeto comum em unidade prisional
A partir de um plano de trabalho único, com foco no respeito pela natureza, os professores da escola estadual vinculadora Romeu de Moraes, da Vila Romana, Zona Oeste de São Paulo, uniram a teoria à prática. Juntos, eles envolveram as duas turmas de 45 alunos do Centro de Detenção Provisória “ASP Willians Nogueira Benjamin” de Pinheiros II, dos ciclos I e II, respectivamente do 1º ao 5º ano e do 6º ao 9º ano, além de outros 10 reeducandos, sendo dois jardineiros e oito da área de manutenção da unidade prisional.
O projeto Jardim Vertical tem como objetivo aproveitar os recursos reutilizáveis da natureza, servindo de exemplo aos alunos sobre o desperdício e o acúmulo de lixo no planeta. Segundo a professora de ciclo I, de alfabetização, Marinilda Sanches, a ideia é que cada professor aproveite ao máximo o projeto e dê o enfoque adequado à sua disciplina.
Nas aulas de linguagem e códigos, por exemplo, a professora Rose Mary Messias trabalhou a estrutura e a montagem dos textos, feitos a partir de pesquisas com os exemplares disponíveis na biblioteca da unidade. Coube ao professor de ciência da natureza, Clemilson Marques Pedroza, dar o enfoque científico. Já o professor de ciências humanas, Elcio Elias Martins, contextualizou os muitos registros da interação do homem com o meio ambiente. E o professor de matemática Geraldo Fernandes Pessoa, ficou com os cálculos necessários para implantação do projeto na prática, e com as dosagens corretas de material orgânico e terra ideais para a compostagem.
Avaliação positiva
O projeto está sendo visto com bons olhos pelo diretor do CDP, Guilherme Silveira Rodrigues. Para ele, o bom desempenho deste e de outros projetos mostra que há união entre funcionários e professores da unidade prisional. Rodrigues destacou que todo trabalho é fruto do esforço coletivo. “Aqui prezamos a humildade e tudo que se faz é crédito da equipe”, falou com entusiasmo.
Na opinião do Diretor do Centro de Segurança e Disciplina da unidade, Elder Alves Ferrari, o crédito pela diminuição no número de faltas disciplinares na unidade deve ser dado ao trabalho desenvolvido pela equipe de professores. Segundo Ferrari, a educação veio agregar respeito e disciplina no dia a dia da unidade.
Para comprovar isso, ele relatou que no ano de 2009, por exemplo, quando não havia escola no CDP, os procedimentos disciplinares chegavam a 500 por ano e hoje, após a instalação da escola e outros projetos, a realidade mudou. “Os procedimentos não atingem a faixa dos 150 por ano”, revelou.
Etapas do projeto
De acordo com Marinilda, a ideia do Jardim Vertical nasceu como proposta teórica e prática da busca do reaproveitamento dos materiais recicláveis encontrados no ambiente do sistema prisional. Segundo ela, é grande a quantidade de lixo descartado ao longo da semana, a exemplo de restos de comida e garrafas pet.
O grupo composto por professores, alunos e reeducandos voluntários arregaçou as mangas e trabalhou no projeto para valer. De início, escolheram um pequeno espaço de terra no jardim ao lado da escola e depositaram ali parte do lixo orgânico produzido pela área administrativa da unidade e passaram a produzir terra rica em nutrientes.
Os próximos passos, segundo Marinilda, foi dar formas de vasos para as garrafas pet e efetivar o plantio, começando com a terra adubada e as mudas de plantas ornamentais selecionadas. As garrafas pet recolhidas na unidade transformam-se em vasos de uma forma rápida e fácil. Foram feitas aberturas retangulares no centro das garrafas e um furo de cada lado dessa abertura, nas partes superior e inferior, para passar a corda que irá sustentar o vaso.
Paralelamente, vários modelos de suporte foram feitos pelos presos que prestam serviços no departamento de manutenção. Com muita criatividade foram montadas estruturas com restos de ferro das antigas camas da enfermaria, além varões de madeira resistente.
A proposta do jardim vertical inicialmente previa o plantio de ervas medicinais. Contudo, o projeto ganhou força e a equipe dividiu os plantios em várias etapas, dando prioridade às plantas ornamentais, reservando as ervas e verduras para um próximo passo, pois exigem cuidados especiais e uma estrutura diferenciada.
