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18/04/24 | Sonia Pestana - Coremetro  |  Compartilhe Facebook      Twitter      Whatsapp      Linkedin      Enviar por e-mail

Medidas simples adotadas no sistema prisional foram eficazes para controle da Covid-19

No CPP do Butantan, foi feita uma Pesquisa Científica para levantar número de casos da doença entre presos e servidores

Grandes sacrifícios foram feitos para conter a onda de Covid-19 no sistema prisional. As medidas de prevenção contra a doença entre presos e funcionários foram adotadas pelas Coordenadorias de Unidades Prisionais da Região Metropolitana de São Paulo (Coremetro) e de Saúde do Sistema Penitenciário (CSSP), da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP).

No Centro de Progressão Penitenciário (CPP) “Dra. Marina Marigo Cardoso de Oliveira” do Butantan, em São Paulo, por exemplo, foi realizado um trabalho científico por dois pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública, do Departamento de Saúde e Epidemiologia da Universidade de São Paulo (USP) e Instituto Butantan, que comprovou que ações rotineiras de prevenção foram capazes de manter sob controle a pandemia dentro da unidade.

A pesquisa foi realizada no período de junho a setembro de 2020 e posteriormente, foi apresentada de forma virtual na conferência internacional sobre o futuro da medicina preventiva e saúde pública da Holanda, em março de 2024, além de publicação na revista de Saúde Pública da USP, na edição especial de Covid nº 57, de 2023.

A pesquisadora responsável do Instituto Butantan foi a médica Soraya Gomes de Amorim Andrade, enquanto o médico Fernando Moreira de Andrade atuou como pesquisador local na testagem, ambos com experiência no sistema prisional.

O estudo contou com 1.038 participantes, sendo 879 reeducandas e 159 servidores do estabelecimento penal. O objetivo da análise foi avaliar a disseminação da doença em indivíduos que estivessem em privação de liberdade.

Segundo os pesquisadores, o resultado foi surpreendente, pois houve baixa prevalência da Covid-19 no CPP do Butantan. Para os médicos envolvidos no estudo, o fato se deve à implementação de medidas de prevenção adotadas na instituição, aliada à obediência da população carcerária e servidores.

Dentre as recomendações, destaca-se o uso de máscaras (com trocas adequadas), ênfase na higiene, lavagem das mãos e distanciamento social, além de outras estratégias, como suspensão de visitas das reeducandas, cortes de consultas médicas eletivas e do trabalho ou estudo externos. Foi feita ainda uma triagem estabelecida na portaria dos funcionários, com foco para quadros suspeitos, e também checagem periódica das reeducandas com tratamento precoce e isolamento dos casos sintomáticos.

Segundo o estudo, nesta fase não houve nenhuma internação “Com certeza, as medidas fizeram a diferença nessa pandemia e farão também em outras”, afirmou a médica Soraya.

Experiência

De acordo com a coordenadora da CSSP, Kely Hapuque Cunha Fonseca, a realidade constatada pela Pesquisa Científica no CPP do Butantan refletiu nas medidas tomadas nas demais unidades prisionais da SAP. Para Kely, a experiência com a situação emergencial revelou que a criação de protocolos claros e realizáveis, a disseminação de conhecimento entre toda a comunidade carcerária, a boa articulação entre atores do Sistema Único de Saúde, aliado às testagens conforme recomendações técnicas e o monitoramento das ações, contribuíram para resultados positivos em todas os estabelecimentos penais do Estado.

Segundo a CSSP, a lição aprendida com o momento histórico de incertezas vivido com a pandemia da covid-19 é buscar respaldo nas produções científicas e, na medida do possível, prever situações de crise e estabelecer, antecipadamente, um planejamento de caráter preventivo que oriente as ações. Para a coordenadora, “é importante salientar o compromisso de todos os servidores da Pasta, que aplicaram adequadamente as recomendações da área da saúde expressas no Plano de Contingência Covid-19 com o objetivo de reduzir impactos da pandemia no interior das unidades prisionais”.

Obediência

A diretora geral do CPP do Butantan, Rosângela dos Santos Silva Souza, relata que no início da pandemia era grande a preocupação, já que a unidade custodiava presas em regime semiaberto que estudavam e trabalhavam fora do estabelecimento penal. Contudo, com a chegada dos pesquisadores ela revela que todos se sentiram acolhidos e bem orientados.

“Tomamos as medidas necessárias com o fim de impedir a propagação do vírus”, relembra. Para Rosângela o temor do contágio foi combatido com informação e obediência às normas de saúde. Segundo ela, tanto servidores quanto reclusas entenderam as recomendações de proteção passadas nas constantes palestras da médica pesquisadora e nos protocolos adotados pela CSSP.

No panorama da infecção pelo SARS-COV-2 no Centro de Progressão Penitenciária do Butantan o trabalho em equipe fez a diferença. De acordo com a médica pesquisadora, os trabalhos só foram possíveis graças ao apoio da diretora geral do CPP que viabilizou a realização da pesquisa científica junto ao coordenador da Coremetro.

Para Soraya, a pandemia da covid-19 representou um desafio à assistência em saúde, mostrou a necessidade de avanços no conhecimento da epidemiologia da doença. Por outro lado, ela pontuou que as ações tomadas, simples e ágeis, foram muito importantes no controle da situação.

Cenário da pesquisa

Pensando no cenário pandêmico de contágio e o ambiente prisional, o Instituto Butantan realizou uma análise de sangue nas reeducandas do CPP com o objetivo de pesquisar quem já tinha tido contato com a doença para determinar a velocidade de disseminação da doença, bem como tomar decisões que minimizassem essa propagação.

O estudo focou na realidade do sistema prisional dada as particularidades dos espaços disponíveis com salas de atendimento espalhadas e a locomoção frequente dos detentos pelas áreas físicas das instituições. Aliado a isso, a pesquisa científica apontou que a população carcerária é vulnerável a problemas físicos e mentais, tanto pela fragilidade causada pelo próprio isolamento social, quanto pelo estresse de privação da liberdade, além de muito mais suscetível às doenças infectocontagiosas.

Segundo a pesquisa, no contexto das prisões, é difícil evitar a aglomeração e manter condições reforçadas de higiene. Outro ponto é que o isolamento social fica ainda mais desafiador, pois, além de novos indivíduos ingressando no sistema diariamente, tem os servidores transitando nos diferentes espaços e depois retornando para suas casas após o expediente dentro das unidades.

Mesmo diante dessa realidade, o estudo científico apontou que a prevalência de anticorpos totais (IgG/IgM) contra o vírus SARS-CoV-2 na população total de 1.038 participantes do estudo foi de 6,1%. Já entre a população de 879 reeducandas foi observado o predomínio de 5,8% e entre os servidores da instituição, 7,5%. Tais resultados se devem às ações de prevenção tomadas na unidade prisional.

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