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22/12/23 | Sonia Pestana - Coremetro  |  Compartilhe Facebook      Twitter      Whatsapp      Linkedin      Enviar por e-mail

Consciência Negra: momento de reflexão e de muita criação

Unidades da Coremetro promoveram ações de conhecimento e produções artísticas da cultura africana

Desde 2011 comemora-se o Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro. O movimento marca a importância das discussões e ações de combate ao racismo e à desigualdade racial no país. Em três estabelecimentos penais da Coordenadoria de Unidades Prisionais da Região Metropolitana de São Paulo (Coremetro) essa data foi lembrada por meio de ações específicas e de muita reflexão. A Coremetro é parte integrante da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP).

No Centro de Detenção Provisória (CDP) I do Belém a iniciativa veio por parte de dois reclusos da Ala de Progressão que prepararam uma palestra sobre a cultura afro-brasileira. O momento foi de interação e reflexão com os demais custodiados do semiaberto.

De acordo com a direção da unidade, em datas comemorativas os reeducandos são estimulados a pensar e dialogar sobre o tema. “Tais ações são sempre bem-vindas”, destacou Anderson Pereira de Melo, diretor geral do CDP.

Uma outra iniciativa veio do Centro de Progressão Penitenciária (CPP) de São Miguel Paulista. A unidade promoveu uma oficina de tranças afro e uma roda de conversas com o título “Mulheres Inspiradoras”.

Já na Penitenciária “ASP Joaquim Fonseca Lopes” de Parelheiros, os reclusos participaram da Mostra Cultural “Novembro Negro”. A ação foi idealizada e desenvolvida pela assistente social da unidade.

Troca de conhecimento

Trinta e cinco reclusas do CPP de São Miguel Paulista participaram das ações “Mulheres Inspiradoras” e tranças. Segundo a organizadora do evento, a psicóloga Raquel Gameiro Boratti, o objetivo das duas atividades foi conscientizar sobre o racismo, compartilhar experiências e empoderar por meio da troca de conhecimento e do contato com as biografias de mulheres negras.

De acordo com os relatos de Raquel, as reeducandas tiveram contato com as biografias de personalidades que fizeram história como Michelle Obama, Rosa Parks, Simone Biles, Cleópatra, Maya Angelou, Alek Wek, Harriet Tubman, Melba Liston, entre outras. A roda de conversa girou em torno da vida dessas mulheres em comparação com a vida das reclusas, pensando sobre como o racismo perpassa essas trajetórias

O encontro proporcionou o compartilhamento de vivências e reflexões sobre a questão. Ao final da atividade, um mural foi montado com as biografias e os desenhos coloridos pelas reeducandas.

Falando especificamente da oficina de tranças, a psicóloga explicou que uma reeducanda ficou à frente do projeto. Coube a ela passar os ensinamentos às demais participantes que praticaram umas nas outras a técnica afro. “O compartilhamento de experiências cria um espaço propício para a empatia e o aprendizado”, garante Raquel.

P.M., que nasceu em Moçambique, na África, relatou que fazer tranças no cabelo era algo comum em sua região, tanto é que aos 11 anos já ganhava dinheiro com essa atividade junto das colegas de escola. Anos depois ela foi trabalhar em um salão de beleza em função dessa habilidade adquirida quando bem jovem. Por isso, ela destacou que a oficina de trança pode trazer benefícios quando em liberdade, abrindo portas para o trabalho.

Para a dirigente da unidade, Nívia Seravali, oferecer ações afirmativas com a temática étnica racial agrega valores. Segundo ela, os resultados impactam no resgaste da autoestima e no processo de reintegração das mulheres.

Mostra cultural

A Penitenciária “ASP Joaquim Fonseca Lopes” de Parelheiros promoveu a Mostra Cultural “Novembro Negro. Katiana Ventura da Silva, assistente social da penitenciária, foi quem esteve à frente da ação. O objetivo da iniciativa foi fomentar discussões acerca do racismo, xenofobia e desigualdade racial, além da violência contra grupos minoritários, da intolerância religiosa, do preconceito cultural, e, sobre o privilégio da população branca, além de outras abordagens.

Para a servidora, “não tem como negar o racismo no Brasil, muito menos negar a participação e a contribuição da população negra na formação da identidade do Brasil, neste sentido a ação cultural possibilitou que o tema fosse abordado de forma leve e lúdica”.

A Mostra envolveu mais de 290 sentenciados, com 85 trabalhos inscritos, sendo 38 desses em forma de desenhos e 47 em textos. Dentre as produções artísticas, os temas abordados giraram em torno da escravidão, do racismo, da desigualdade racial e social, da luta e resistência, do respeito e dignidade, além da cultura.

A escola vinculadora da rede estadual “Leda Guimarães Natal” também deu sua contribuição por meio do desenvolvimento de Bonecas Abayomi (bonecas negras de pano), envolvendo diretamente os alunos do 9º ano do ensino fundamental, 2º e 3º anos do ensino médio.

Bonecas Abayomi - Essas bonecas foram introduzidas na Mostra por conta da força de sua existência. Criadas para entreter desde as crianças, passando pelos jovens, chegando também aos adultos na época da escravidão. As mulheres negras as confeccionavam com pedaços de suas saias, único pano encontrado nos navios negreiros, para acalmar e trazer alegria para todos.

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