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25/09/23 | Amanda de Oliveira - CRC  |  Compartilhe Facebook      Twitter      Whatsapp      Linkedin      Enviar por e-mail

Reeducandas da Penitenciária de Votorantim doam cabelo para ajudar crianças com câncer

Cento e vinte presas participaram da ação em prol do Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil

Cento e vinte reeducandas da Penitenciária Feminina “Oscar Garcia Machado” de Votorantim participaram do projeto Deixei de ser Rapuzel. A ação consiste em arrecadar mechas de cabelos para serem doadas para o Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil (GPACI), com sede em Sorocaba.

“Eu havia feito uma promessa de um dia doar o meu cabelo. Ele era bem comprido, bem volumoso e cresce muito rápido”, disse Tereza, ao falar do projeto Deixei de ser Rapunzel.

Quando ela fez essa promessa, era uma pessoa livre, trabalhava em um negócio da família, mas decidiu fazer um extra nas horas vagas como motorista de aplicativo. Sua mãe não gostava muito da ideia, achava perigoso, mas respeitava o desejo da filha.

Certo dia, em uma de suas corridas, foi surpreendida pela polícia por tráfico de drogas. Um passageiro estava carregando o ilícito e ela foi condenada junto. Com os olhos lacrimejando, Tereza conta que viu a sua vida desmoronar. A adaptação atrás das grades não foi fácil. Hoje, aos 42 anos de idade, e reclusa há dois anos e sete meses, ela diz acreditar que tudo na vida tem um propósito e que ela precisava passar por isso para que os planos de Deus se cumprissem em sua vida. Tereza é cristã, assim como sua família.

O tempo passou. Tereza, que teve um sobrinho de 18 anos curado de um linfoma, cujo tratamento foi feito no Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil (GPACI) – lembrou de sua antiga promessa quando sua colega de penitenciária, Fernanda, mobilizou todas as reeducandas a doarem os cabelos justamente para a mesma entidade que havia assistido o sobrinho de Tereza.

Após a sua primeira doação, Tereza está aguardando a saída Temporária para ir pessoalmente ao GPACI fazer outra boa ação. Com os olhos marejados, ela lembra o quanto foi doloroso passar por todo o processo de dor juntamente com o sobrinho que, por um “milagre”, segundo ela, está curado há cinco anos.

Fernanda, 27 anos, está na penitenciária há 1 ano e 8 meses. Ela também tinha um cabelo enorme, mas se sentiu tocada a oferecer ajuda a quem precisa. “Quando a dona Paula perguntou se alguém queria doar os cabelos, eu fui a primeira a me voluntariar e incentivei fortemente as colegas. Para muitos pode ser só um cabelo, mas para a criança é uma vida”, diz.

Na penitenciária, ela trabalha em uma empresa de costura confeccionando uniformes, mas ela também entende sobre corte de cabelos. Assim, ela mesma fez o seu corte no “toco”, como descreve. “Ao contrário de muitas mulheres, que a autoestima está nas madeixas, a minha levantou quando eu me desfiz das minhas para participar do projeto Deixei de ser Rapunzel”, conta Fernanda com um largo sorriso no rosto.

Para ela, a passagem pelo sistema prisional fez com que enxergasse a vida por outro ângulo. “Quando eu estava na rua, eu não tinha acesso a esse tipo de ação beneficente. Hoje eu tenho e isso não ajuda só quem vai receber os cabelos, mas a mim que passei a valorizar mais a vida, o trabalho e as pessoas ao meu redor”.

Já Roberta, de 27 anos, é a única das entrevistadas que tem filhos. Segundo ela, participar da doação foi como se estivesse fazendo algo por suas próprias crianças. Reclusa há três anos, ela tem cinco filhos, contou sobre a saudade e as dificuldades para criá-los e como ela ficaria feliz se alguém se prontificasse a ajudar, caso seus filhos precisassem. Então ela faz com um bom coração, concluindo sua fala bem reflexiva.

Deixei de ser Rapunzel

O projeto Deixei de ser Rapunzel está na 3ª edição. A primeira ocorreu em 2019, ainda sob a supervisão do então diretor de Centro de Trabalho e Educação, Ademir Braca, sendo interrompido temporariamente por causa da pandemia. Essa última edição do projeto ocorreu sob a supervisão das servidoras Paula Baliero Custódio Giglio e Giseli Larrosa Oler, e contou com a participação de 120 reeducandas.

A ação consiste em arrecadar mechas de cabelos para serem doadas para o Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil – GPACI com sede em Sorocaba. A instituição que assiste crianças com câncer nasceu com a finalidade de prestar assistência integral às crianças e adolescentes (0-18 anos) portadores de neoplasia maligna. É uma entidade beneficente, de caráter filantrópico, que oferece assistência médica e hospitalar, bem como assistência social e moral, extensiva aos seus familiares.

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