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14/06/23 | Amanda de Oliveira - CRC  |  Compartilhe Facebook      Twitter      Whatsapp      Linkedin      Enviar por e-mail

Diretor da Penitenciária I de Capela do Alto conta sua trajetória de quase 30 anos no sistema prisional

Em março, a unidade prisional completou 10 anos e inaugurou um espaço de leitura

Atualmente, a PI de Capela do Alto está sob direção de Marcelo Alves Correia que, anteriormente, foi diretor do Centro de Detenção Provisória (CDP) de Americana. Ele foi aprovado no concurso em 1993, fez a prova por incentivo de sua mãe. Antes, trabalhava em uma oficina e nem fazia ideia de que passaria os próximos longos anos, contribuindo para a ordem da sociedade, trabalhando em um ambiente penal.

Correia acumula experiências sendo 11 anos como diretor de disciplina em unidades diferentes, dois anos como diretor no CDP de Americana e, atualmente na Penitenciária I de Capela.

Há quase 29 anos, Correia ingressava no sistema prisional. Era tudo novo para ele, que nunca havia entrado em um ambiente carcerário. O tempo passou. Ele rapidamente se adequou ao ambiente de trabalho, tornando-se um servidor que conquistou a confiança dos colegas. Mas foi em 1996 que veio o seu maior desafio desde então: o primeiro motim. Dois presos estavam se sentindo ameaçados por outros presos e fizeram dois servidores de reféns, havia uma tensão muito grande, após horas de negociação com o diretor geral os servidores saíram ilesos.

Correia lembra que, após esse episódio, outros motins e rebeliões ocorreram, mas nada comparado a que estava por vir em 2006, no Dia das Mães. O então diretor era plantonista em um Centro de Detenção Provisória localizado na Região Metropolitana, escalado juntamente com seu irmão de consideração José Aparecido, hoje falecido.

“Era por volta das 11h de um sábado, dia de visita, tinha acabado de chegar a alimentação, ouvi barulho no andar superior, fomos até a escada para ver o que era e demos de encontro com uma turba de presos com a cabeça coberta, estiletes e pedaços de corda improvisados nas mãos, onze servidores foram feitos reféns”, lembra.

De acordo com o gestor, eles ficaram sabendo que outras unidades estavam ‘virando’ também. Foi a partir dali que eles perceberam que a situação era de uma dimensão ainda maior.

“As negociações não progrediam, sendo necessária a intervenção do Batalhão de Choque. Naquele momento eram só gritos, explosões e medo. Eu estava como refém”, relembra Correia.

Com a entrada do Batalhão, os presos recuaram e fizeram o então diretor de escudo. Ele foi arrastado para uma cela. Após alguns minutos de tensão, ele percebeu que os presos estavam com medo e bastante apreensivos, então ele aproveitou para reagir, mas foi atacado com chutes, socos e jogado no chão. Após as agressões e com o rosto ensanguentado, Marcelo finalmente conseguiu escapar. Ele tinha algumas perfurações superficiais no rosto, nas costas e possuía hematomas. Foi o último refém a ser libertado.

Marcelo conta que mesmo após os traumas emocionais, ele e seu amigo José decidiram voltar para o trabalho no dia seguinte. O cenário era devastador, mas eles estavam certos de que deveriam seguir em frente.

“Não foi fácil, mas seguimos em frente assim como outros agentes. Continuei trabalhando normalmente, porém passei a refletir sobre tudo o que passei nessa e em outras ocasiões e comecei a me questionar qual seria meu papel no sistema penitenciário. Eu poderia continuar desempenhando meu trabalho normalmente, como vinha fazendo, ou me prontificaria em assumir uma responsabilidade maior, fazendo alguma coisa para que outros colegas não passassem pelo que eu passei”, reflete.

Ao chegar a uma conclusão, ele decidiu por colocar-se à disposição de seus superiores. Começou a ajudar na chefia e assumir mais responsabilidades e não demorou muito para que fosse convidado a assumir a Diretoria de Disciplina de uma penitenciária.

10 anos da Penitenciária

Em março, a Penitenciária I de Capela do Alto completou 10 anos. Em um ambiente externo que de forma alguma lembra uma prisão, a penitenciária é rodeada das cores da natureza, lagoa e animais silvestres que trazem calmaria. Aos servidores, quando estão no horário do almoço, é possível alimentar uma família de macacos.

No mês em que a unidade completou uma década, inaugurou um espaço para leitura em parceria com a Fundação Prof.Pedro Pimentel (Funap). A sala conta com um acervo com cerca de 200 livros, além de um reeducando que monitora o espaço. Cabe ressaltar que a unidade também possui uma biblioteca com mais de 3,5 mil exemplares. O objetivo é proporcionar aos encarcerados a oportunidade de ressocialização por meio da educação.

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