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18/04/22 | Mariana Amud – Coremetro  |  Compartilhe Facebook      Twitter      Whatsapp      Linkedin      Enviar por e-mail

Guilherme Silveira Rodrigues é homenageado pela dedicação ao sistema prisional paulista

Surpresa aconteceu após anúncio de aposentadoria

Com 47 anos de história no sistema prisional paulista, uma lenda viva da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) se aposentou. No último dia 30 de março, Guilherme Silveira Rodrigues foi homenageado na sede da Coordenadoria de Unidades Prisionais da Região Metropolitana de São Paulo (Coremetro) por sua marcante jornada de trabalho em diferentes estabelecimentos penais do estado.

No dia de sua homenagem, com diretores de unidades prisionais e familiares presentes, Dr. Guilherme foi destacado pelo coordenador da Coremetro, Antônio José de Almeida, como um exemplo de pessoa. “A gente retribui não só pelo sistema, mas pelo que você já fez a todos os colegas de trabalho. Isso faz com que ganhemos experiência e nos engrandece, todos os dias”, disse Almeida em discurso.

Histórico no sistema

Autor do livro Código de Cela, Dr. Guilherme começou como Agente de Segurança Penitenciária (ASP) na antiga Casa de Detenção, alcançou cargos de direção na Penitenciária do Estado de São Paulo e atuou na mediação e intervenção em diversas situações de conflito. A última unidade em que esteve como diretor geral foi o Centro de Detenção Provisória (CDP) II “ASP Willians Nogueira Benjamin” de Pinheiros.

Em vídeos do acervo do Museu Penitenciário Paulista (MPP), de 2012, é possível notar a paixão do ex-diretor pelo ofício e seu olhar diferenciado para a reintegração da pessoa presa. “Nosso papel é cuidar e tentar reintegrar para a sociedade de alguma maneira. É possível sim [ressocializar o homem preso]. Eu acredito na ressocialização, senão não teria sentido eu estar há 37 anos batalhando em prol de um sonho que eu não acreditasse”, comenta ele em um trecho.

Sua atenção também se voltou aos funcionários e à prisionalização que enfrentam por trabalhar no sistema penal. “Muito se fala que o trabalho na cadeia é bruto, mas nunca se teve ideia do que é ficar 12 horas em uma unidade penitenciária, muito mais [tempo] do que você fica com a sua família”, destacou em depoimento de 10 anos atrás.

Ações de Reintegração

Para além do discurso, Dr. Guilherme apoiou e batalhou para que diferentes ações voltadas ao estudo e ao trabalho da população privada de liberdade fossem instituídas. No CDP II de Pinheiros, com apoio de sua equipe funcional, abraçou projetos que buscaram atender demandas diversas, incluindo aulas de ioga e projetos dedicados à população transexual.

Sempre muito respeitado por presos e servidores, uniu os dois grupos para trabalhos destinados às instituições sociais que até hoje são realizados pelo estabelecimento penal. As entregas de peças feitas de pelúcia e em crochê contam com a mobilização funcional para arrecadação de matéria-prima e dedicação dos reclusos para desenvolvimento dos itens. Nessa atividade, é destacado o sentimento de solidariedade empenhado pelos atores principais.

Aprendizados repassados

Seu legado foi sendo construído ao longo de anos de trabalho. Uma das pessoas com trajetória profissional e pessoal marcada pelo Dr. Guilherme é o diretor geral do Centro de Progressão Penitenciária de Franco da Rocha, Eduardo Villas Boas. “Ele foi de suma importância na minha carreira. Muito mais do que um exemplo, foi meu conselheiro. Todas as minhas decisões profissionais foram tomadas após consulta a ele e ao meu pai que também foi ASP (de 1974 a 2006), ambos trabalharam juntos por muitos anos, foram grandes amigos”, ressalta o diretor.

“Dr. Guilherme foi um visionário. Minucioso em todos os aspectos, aperfeiçoou práticas e nos mostrou a importância do trabalho diário como ferramenta de equilíbrio entre a disciplina e a ressocialização. Eu costumo dizer que a história profissional dele deveria ser retratada em um livro que deveria ficar na cabeceira de todo ASP, tamanha é sua importância para o Sistema Penitenciário de SP”, para Villas Boas, Dr. Guilherme sempre esteve à frente de seu tempo e está para sempre marcado como “meu professor, meu diretor, meu colega e será sempre meu amigo”.

Cuidado com todos

Quem também sempre teve contato com Dr. Guilherme é o atual diretor geral do CDP II de Pinheiros, Ernani Izzo. Primeiro por meio de relatos sobre os atos de coragem do “Guilhermão” na Casa de Detenção e, mais tarde, pessoalmente, trabalhando juntos, como diretor e substituto em Pinheiros.

Izzo destaca atitudes que demonstram o respeito do ex-diretor a todas as pessoas, sem distinção, e a recíproca com ele. “Em uma situação, ele observou que visitantes idosas e gestantes permaneciam em uma fila única e em local descoberto. Pessoalmente as retirou de seus lugares e as posicionou à frente das demais, mas para não criar animosidade com àquelas que aguardavam, explicou sobre o respeito e a empatia ao próximo, sendo aplaudido por todos. No final de semana seguinte havia cobertura nos locais de espera e fila exclusiva, com atendimento prioritário para idosos, gestantes e cadeirantes”, relembra o diretor.

Um exemplo de profissional a ser seguido e tendo Izzo como um de seus seguidores, Dr. Guilherme ensinou sobre dedicação ao trabalho e cuidado com o local e pessoas com quem divide o dia a dia. O atual diretor do CDP II de Pinheiros diz ter aprendido ”que nosso local de trabalho é nossa segunda casa, assim como o corpo funcional, nossa segunda família... Temos que deixar nossa segunda casa bem adornada e a nossa segunda família em ambiente salutar”.

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