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03/12/21 | Sonia Pestana – Coremetro  |  Compartilhe Facebook      Twitter      Whatsapp      Linkedin      Enviar por e-mail

Animais como terapia no ambiente prisional

No sistema penitenciário, a ação auxilia no desenvolvimento da responsabilidade e de laços afetivos de custodiados

A presença de animais no entorno de alguns estabelecimentos penais da Coordenadoria de Unidades Prisionais da Região Metropolitana de São Paulo (Coremetro), pertencente à Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), vem mudando o cenário e contribuindo para uma transformação no comportamento das pessoas privadas de liberdade.

Não é de hoje que a psicologia aponta os aspectos positivos do convívio do ser humano com os bichos. O ato de cuidar de outro ser vivo, seja ele qual for, proporciona significado e propósito na vida.

A Diretora de Reintegração Social da Penitenciária I “José Parada Neto“ de Guarulhos, Maria Isabel Lima Hamud, concorda com a colocação. De acordo com a psicóloga, “o contato com os animais traz à tona tanto o aspecto afetivo, que desperta a compreensão da importância do cuidado, como também o aspecto racional da responsabilidade, especialmente se houver um contexto no qual seja possível desenvolver uma relação continuada”.

Essa constatação encontra também amparo na observação do criminologista alemão Hans-Dieter Schwind. Para ele, a criação de animais na prisão impacta positivamente a vida dos reclusos quanto ao desenvolvimento de responsabilidades e na criação de laços afetivos, que muitas vezes são esquecidos no cotidiano onde estão ou estavam inseridos.

Convivência harmoniosa

Em algumas unidades prisionais da Coremetro é comum encontrar cachorros e gatos. Mas curioso é ver que, mesmo na região metropolitana da cidade de São Paulo, a paz reina entre patos, gansos, carneiros, carpas, tilápias, traíras, cascudos, enguias e pássaros, convivendo em harmonia com servidores e reclusos.

Essa realidade é compartilhada pelos Centros de Detenção Provisória (CDPs) “ASP Paulo Gilberto de Araújo” Chácara Belém, “ASP Vanda Rita Brito do Rego” de Osasco, “ASP Willians Nogueira Benjamin” e III de Pinheiros, além das penitenciárias Femininas da Capital (PFC) e Sant’Ana (PFS). Quanto ao trato diário, esse serviço é compartilhado de forma prazerosa entre todos, funcionários e custodiados do sistema prisional.

Nesse contexto, é interessante notar o papel desempenhado pelos animais no âmbito dos estabelecimentos penais. Segundo o diretor do CDP II de Osasco, Fabiano José Carmelo Vieira, os carneiros, por exemplo, que ficam na área externa da unidade (intramuros), auxiliam na capinagem da área verde.

Já as galinhas e os patos possuem múltiplas funções, algumas bem curiosas. Eles servem para conter os insetos e pragas na linha de tiro, além de manterem a vegetação sob controle e servirem ainda de aviso sonoro caso alguma coisa estranha entre nesse espaço.

Há, ainda, as carpas que estão num pequeno lago na gruta em homenagem à Nossa Senhora Aparecida. De acordo com Vieira, o lugar confere tranquilidade e paz para todos os servidores e visitantes, independentemente de sua opção religiosa.

Vínculo afetivo

Os gestores das unidades prisionais consultadas disseram que a criação dessas espécies torna o ambiente prisional mais leve. Em especial, para os detentos, a oportunidade de trabalhar no cuidado desses animais traz a sensação de dever cumprido.

Segundo relato da direção da PFS, há uma preocupação em selecionar para os cuidados diários com os gansos e patos da unidade sentenciadas que possuam maior vínculo afetivo com os bichos. Normalmente, é levado em consideração o perfil emocional da custodiada, pois é uma atividade terapêutica que traz benefício laborterápico.

Para a sentenciada da PFS, C.A.S, o trato com os gansos e patos mudou sua vida para melhor. Em seu sonho de liberdade está a possibilidade de continuar a lidar com animais quando fora do sistema prisional. Ela relata que na sua rotina diária não faltam carinho e cuidados com as aves. “Sinto um amor incondicional por eles”, confessou.

As reeducandas da PFC compartilham os mesmos sentimentos. Lidando diretamente com os bichos, elas demonstram contentamento com a atividade. Segundo a direção, a presença dos carneiros faz com que o ambiente prisional fique menos tenso, revelando ser uma maneira de diminuir os impactos causados pelo aprisionamento, contribuindo para a redução do estresse, ansiedade e a depressão, além de despertar sentimentos afetivos e de cuidados com o outro.

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