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31/05/21 | Amanda de Oliveira - CRC  |  Compartilhe Facebook      Twitter      Whatsapp      Linkedin      Enviar por e-mail

CDP de Sorocaba: "Paz no Coração, Liberdade na Prisão"

Em cartas, custodiados relatam suas experiências com o projeto, falam sobre melhora na autoestima e no controle emocional

“Saudações em nome do Senhor Jesus Cristo”. Assim começa a carta de um homem que, desde 1996, é presbítero. Em sua escrita, é possível perceber o orgulho que sente por ter princípios religiosos. “Até o presente momento sou ministro do evangelho”, diz em um trecho que conta a sua trajetória de vida. Ele tem quatro filhos e enquanto não pode estar perto deles, ocupa o tempo da maneira que é permitido, sendo que uma das formas é falando do amor de Jesus.

Outro personagem, de 30 anos, também me contou a sua história. Com dois filhos - a quem se refere como uma princesa e um príncipe - ele relatou que não teve muito êxito na vida amorosa, após 10 anos de casamento, teve que divorciar-se, mas em tom de alívio escreveu que a separação foi em paz e não prejudicou os filhos. Ele se descreve como alguém trabalhador, honesto, de família evangélica, mas que em algum momento da vida esteve com pessoas erradas, e no lugar errado.

Na terceira carta, é possível conhecer a história de mais um personagem: um homem de 54 anos, também religioso, que com muita convicção afirma: “a minha família está me esperando. Eu vou voltar para eles, pois aqui não é o meu lugar”. Ele é pedreiro por profissão e usa as suas habilidades para auxiliar nos serviços internos do lugar onde vive atualmente.

O que estes três homens têm em comum além da fé? Eles compartilham o mesmo endereço: O Centro de Detenção Provisória (CDP) de Sorocaba. Por motivos diferentes, hoje eles dividem o mesmo ambiente e se motivam diariamente, trocando incentivos entre eles e levando esperança para os demais.

Além dos esforços que fazem para se manterem confiantes, principalmente em dias assolados pela pandemia, cujas visitas presenciais estão suspensas, eles puderam usufruir do programa “Liberdade na Prisão, Paz no Coração''. O trabalho é desenvolvido pelo Instituto Ação Pela Paz (IAP), por intermédio do projeto Semear, que assiste centenas de pessoas privadas de liberdade, por meio de 40 projetos ativos em 19 unidades prisionais subordinadas à Coordenadoria da Região Central (CRC).

Em seus relatos, os sentenciados são unânimes em agradecer aos servidores que orientaram o projeto, que ocorreu de maneira virtual. O pedreiro, que se excedeu durante um momento de ira, escreveu sobre as suas impressões ao participar do programa.

“Agradeço a Deus por não ter acontecido o pior, mas sou consciente do motivo pelo qual estou aqui. Eu não tinha o hábito de pensar e refletir sobre as consequências de nossas ações. Hoje é diferente”, concluiu.

O presbítero disse que vai aproveitar o que aprendeu durante o curso para fortalecer ainda mais os seus laços com Deus e pregar o evangelho para as pessoas. Ele pretende retomar a sua carreira de comerciante e tentar recuperar o tempo que passou longe dos filhos, para que assim, possa se tornar orgulho e exemplo para eles.

Já o motorista, que diz que a sua jornada no CDP está terminando, relata que uma das coisas que aprendeu foi sobre o poder do silêncio. “Ouvir mais e falar menos, respirar antes de tomar qualquer atitude na vida. Isso eu vou levar comigo e pretendo compartilhar as experiências que vivi no curso com os meus familiares, amigos, enfim, com todos que eu amo”, conclui o encarcerado.

Paz no Coração, Liberdade na Prisão

O projeto tem a finalidade de proporcionar ao reeducando uma visão interna de si, maior equilíbrio físico, emocional e espiritual. Foram realizados 16 encontros nos quais foram abordados diversos temas, como meditação, relacionamento interpessoal, ferramentas para lidar com as emoções, entre outros.

O Projeto foi liderado pelas servidoras Ione Terezinha - assistente social - e Maria Regina Ferreira, psicóloga. Ao final do curso, os participantes externaram suas impressões e 100%, segundo indicadores do IAP, apontaram melhora no convívio com os companheiros da unidade, no seu bem-estar, autoestima e nas condições cardiorrespiratórias; 83% concordam que o projeto contribuiu para a diminuição da ansiedade e de conflitos, além do aumento da autoconfiança e autocontrole. Todos os participantes receberam certificados.

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