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13/04/21 | Amanda Oliveira - CRC

Uma história, um legado

Celeste Abamonte, recentemente aposentada, fala sobre suas experiências em mais de 30 anos de sistema prisional

Se algum dia o sistema prisional já foi considerado um ambiente masculinizado, hoje não é mais. Muitas mulheres têm feito carreira, ocupado cargos em unidades prisionais exclusivamente para homens e construído, ao longo da história, um legado. É o caso de Celeste Maria Varella Abamonte, que alcançou a aposentadoria recentemente.

A nossa personagem disse ter se inspirado em sua mãe, que era Agente de Segurança Penitenciária (ASP). Seus primeiros passos na vida profissional tiveram início no ano de 1986, aos 22 anos, quando foi contratada pela Fundação Profº Dr. Manoel Pedro Pimentel (Funap), período em que foi inaugurado o Centro de Progressão Penitenciária (CPP) Profº Ataliba Nogueira, de Campinas. Dois anos depois, Celeste foi aprovada no concurso para Oficial Administrativo, passando a trabalhar na Penitenciária I de Sumaré, a qual, 10 anos depois, se tornaria o Centro de Progressão Penitenciária de Hortolândia (CPPH). Após desempenhar um trabalho exemplar, Celeste assumiu o Centro de Ressocialização Feminino Carlos Sidnes Cantarelli, onde permaneceu até fevereiro de 2021, quando se aposentou.

Questionada sobre como conseguiu conciliar trabalho, filhos e outros aspectos de sua vida, Celeste, que é graduada em Serviço Social, foi categórica em afirmar que tudo é questão de organização. Ela disse que se sente realizada em todas as áreas da esfera pessoal, uma vez que os filhos cresceram, estudaram, concluíram seus cursos e se casaram, enquanto ela também se dedicava ao sistema prisional e suas conquistas pessoais.

Mas nem tudo foram flores. Uma das experiências mais marcantes em sua trajetória, foi, sem dúvidas, a rebelião de 2006. Ano que não só ela, mas todos os servidores do sistema prisional, jamais esquecerá. Ela recorda que estava de plantão, era Dia das Mães. A sua filha estava sozinha em casa e viu a notícia pela televisão. A adolescente, de 17 anos, entrou em pânico e foi socorrida por duas vizinhas, as quais Celeste permanece grata até os dias de hoje.

Além dos desafios do trabalho, foi também necessário lidar com o preconceito por ser mulher. “Infelizmente, vivemos em um país preconceituoso. Muitas vezes, tendo um trabalho feito até melhor que um homem, temos que enfrentar o preconceito, simplesmente pelo fato de sermos mulheres. É triste e revoltante, mas ainda vivemos isso”, afirma Celeste.

Aposentadoria

Após anos dedicados ao serviço, chegou o merecido descanso. Celeste deixou um legado no CR, onde encerrou a sua carreira. Durante o tempo em que esteva à frente da unidade prisional, ela conheceu muitas histórias, viu presas entrarem, saírem e em alguns casos, até voltarem. Buscou muitos projetos em parceria com o município, e como resultado, viu muitas mulheres atingirem o principal objetivo da SAP - a ressocialização.

“Sou grata por ter tido autonomia para desenvolver projetos dos quais eu acredito que deram certo, pois as pessoas precisam de novas chances”.

Hoje, quase dois meses após a aposentadoria, ela diz que ainda sente como se estivesse de férias, mas já se prepara para ocupar o tempo com investimento pessoal. “Tenho pensado no que virá, quero muito fazer alguns cursos voltados para o autoconhecimento. Também preciso de um tempo para mim, minha saúde, meditação. Como a vida é uma surpresa constante, estou aberta a receber aquilo que o universo me trouxer de bom”, conclui a ex-diretora.

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