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23/11/20 | Pierre Cruz – Corevali

Projeto estimula reaproximação entre presas de Tremembé e seus familiares

Serviço Social da Penitenciária Feminina I de Tremembé propõe reconciliação entre detentas e parentes por cartas

Um fator chave no processo de ressocialização é a reaproximação entre detentos e seus familiares. Os profissionais da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) trabalham para garantir que pessoas presas consigam recuperar laços sociais que foram perdidos em decorrência da criminalidade. Na Penitenciária Feminina I “Santa Maria Eufrásia Pelletier”, o Núcleo de Reintegração e Atendimento à Saúde (NRAS) desenvolveu o projeto “Cartas Reparadoras”, para incentivar que as reeducandas consigam escrever mensagens de perdão.

A ação teve início em 2018 e tem três objetivos principais: estimular o contato entre as internas e seus conhecidos, oferecer apoio psicossocial à população carcerária e auxiliar na articulação das sentenciadas. O assistente social do presídio e responsável pela atividade, Maurício Faria, promove palestras com as detentas, em que são propostas reflexões sobre como abordar assuntos delicados com entes queridos, além de oferecer dicas sobre escrita.

“As presas aprendem a sintetizar suas ideias, a escrever histórias com começo, meio e fim, e a expressar melhor seus pedidos de perdão”, explica o profissional. “Quando essas mulheres saem em liberdade, é importante que sejam acolhidas por amigos ou pela família, caso contrário, as chances de reincidência no crime são maiores”, completa. Faria acrescenta que embora os resultados não sejam imediatos, as reaproximações são sólidas. “Já vi caso de reeducanda que conseguiu se reconciliar com a irmã depois de sete anos sem diálogo”, conta.

Hayane está presa há 9 anos e envia cartas para os sogros e para os filhos. “A minha intenção é passar a segurança de que eu mudei”, afirma. A interna, de 35 anos, acredita que conquistou a confiança de pessoas próximas depois do projeto. “Não tinha o hábito de escrever porque não me sentia encorajada”, reflete. “Passei a organizar melhor meus pensamentos e transferir para o papel. Deu certo! Minha sogra é como se fosse uma mãe para mim e, recentemente, ela passou a se referir a mim como filha em suas respostas”, conta.

Mais de 100 detentas já foram beneficiadas pela atividade, que é oferecida aos regimes fechado e semiaberto da unidade prisional. As reeducandas que participam da ação são convidadas a produzir uma autoavaliação sobre suas atitudes e seus comportamentos e recebem sugestões de temas a serem abordados – não é obrigatório que as cartas sejam enviadas. “Algumas presas passam a assimilar a gravidade dos crimes cometidos com o exercício de escrever para si mesmas”, comenta o assistente social da penitenciária.

A reeducanda Cássia, de 44 anos, confessa que tem os dedos calejados tamanho é o número de cartas escritas para família. A interna, que retomou os estudos dentro do presídio, tomou gosto por escrever e acredita ter aprendido lições importantes por meio do projeto. “Entendi que o tempo alheio precisa ser respeitado e que uma resposta pode demorar”, afirma. “Tinha muita dificuldade em como começar um texto, encaixar tudo o que quero dizer numa folha de papel. Hoje, consigo expressar amor, arrependimento e vejo o resultado: quando minha filha me responde, é como se estivéssemos frente a frente. Não tem preço”, comemora.

aasassa
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