14/10/20 | Mariana Amud – Coremetro
Crescimento no empréstimo de obras literárias demonstra interesse de reeducandos por ocupação, conhecimento e remição de pena durante a pandemia
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Títulos disponíveis aos reeducandos da Penitenciária José Parada Neto de Guarulhos
No CPP de São Miguel Paulista a leitura tem sido praticada para aliviar ansiedades e para adquirir conhecimento
Monitoras da biblioteca separam os livros escolhidos pelas demais reeducandas
Distantes socialmente e mais próximos dos livros. Durante a pandemia, muitos reeducandos da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) fizeram da leitura uma companhia. Com um acervo de mais de 120 mil livros disponíveis nos estabelecimentos penais da Coordenadoria de Unidades Prisionais da Região Metropolitana de São Paulo (Coremetro), a procura por obras literárias apresentou aumento nos últimos meses.
O dado se deu após a interrupção de atividades rotineiras nas unidades penais, visando evitar a disseminação da Covid-19 no sistema prisional paulista, e garantir o bem-estar de servidores, voluntários e reeducandos. Dentre elas, as visitas aos finais de semana e as ações educacionais presenciais que foram suspensas temporariamente.
Adaptações ao novo normal
A quebra da rotina fez com que algumas pessoas adotassem a leitura como parte do dia a dia. Na Penitenciária Feminina Sant’Ana (PFS), entre os meses de março e setembro deste ano, houve aumento na média de empréstimos de obras de 419 para 2.011 exemplares.
A prática foi estimulada pelo corpo funcional por meio de momentos de reflexão com as monitoras da sala de leitura, que retransmitiram para as reeducandas a importância e benefícios da leitura. Diante do interesse nas histórias lidas, as custodiadas da unidade prisional estão desenvolvendo uma peça teatral baseada em “O Casamento de Emília”, de Monteiro Lobato.
Os protocolos sanitários da Covid-19 também são necessários para o empréstimo dos livros. As salas de leitura são frequentadas apenas pelos monitores reeducandos, as obras são escolhidas a partir de catálogo e, após a devolução, os livros são mantidos em “quarentena” por 72h antes de serem emprestados novamente.
Um crescente interesse pela atividade também foi apresentado pelos reeducandos da Penitenciária I “José Parada Neto” e do Centro de Detenção Provisória (CDP) II de Guarulhos. Entre os títulos mais procurados estão “O Código Da Vinci”, de Dan Brown, “Juízo Final”, de Sidney Sheldon, “Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios”, de Marçal Aquino, “O Processo”, de Franz Kafka, entre outros.
Além de ser um costume saudável intelectualmente, os custodiados visam a remição de pena que é concedida a partir da leitura. Por lei, a cada resumo de livro entregue ao Judiciário é possível remir quatro dias de pena, ao todo podem ser remidos 48 dias ao ano dessa forma.
Companhia e aprendizado
Para a reeducanda L.K.S, atualmente no Centro de Progressão Penitenciária (CPP) de São Miguel Paulista, o hábito de ler foi desenvolvido dentro do sistema prisional. Durante a pandemia, a prática se tornou mais frequente e é uma distração para ela. “Tenho me dedicado mais à leitura, pois, com isso, aprendi a me expressar melhor, adquiri mais conhecimento. Isso me faz sair um pouco da realidade em que me encontro”, comentou.
No CPP de São Miguel Paulista, a direção geral percebeu que as custodiadas têm procurado nos livros uma forma de amenizar a ansiedade e preencher o tempo ocioso. O mesmo foi percebido no CPP “Dra. Marina Marigo Cardoso de Oliveira” de Butantan, onde a média de empréstimos da biblioteca aumentou em 40%.
