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01/06/20 | Amanda de Oliveira e Fernanda Nagliati - CRC

Sem beijos e abraços: servidora perto de se aposentar fala sobre o primeiro Dia das Mães comemorado no sistema prisional sem contato físico

Roselaine de Oliveira conta, também, sobre a sua maior realização: a formatura da filha em Medicina Veterinária

O mês das mães era para ter sido com muitos beijos e abraços, como nos anos anteriores. Infelizmente, não foi assim que a data ocorreu para algumas servidoras, especificamente as do sistema prisional, quando os cumprimentos foram por meio de olhares, sorrisos escondidos e um “Feliz Dia das Mães” com a voz abafada pelas máscaras.

Ainda assim, algumas funcionárias foram surpreendidas com um gesto de carinho, sob a orientação de “não se aproximem”. Para não deixar a data passar em branco, a Comissão Interna de Prevenção a Acidentes (Cipa) das unidades prisionais organizou homenagens para que elas, durante a pandemia, continuassem se sentindo especiais. Porém, sem abraços e beijos.

Flores, mensagens, mimos e cafés da manhã fizeram as homenageadas se sentirem melhores em tempos difíceis. Desta forma, no ambiente de trabalho, elas se sentiram abraçadas, acolhidas, mesmo sem o contato físico de costume entre os colegas.

Maior presente

Para Roselaine Correia Moreno de Oliveira, de 52 anos, uma das servidoras, este ano foi dividido entre os infortúnios causados pela pandemia e felicidade de, recentemente, ter recibo o seu maior presente: sua única filha se formou em Medicina Veterinária. Embora ela não pudesse abraçar os colegas de trabalho, o abraço e carinho da filha estavam garantidos. Mariana Moreno de Oliveira, de 24 anos, mora com a mãe.

Rose, como é carinhosamente chamada pelos colegas, é oficial administrativa na Penitenciária "Dr. Danilo Pinheiros" de Sorocaba I. Ela tem nada mais nada menos do que 28 anos de trabalho na Secretaria da Administração Penitenciária (SAP). E, neste tempo, trabalhou com um propósito: educar a filha.

Ela conta que, ao longo deste período, pode acompanhar diversas transformações no sistema penitenciário. Mas foi a primeira vez, segundo ela, que, em quase 30 anos de comemoração do Dia das Mães na SAP, ela não pode abraçar as companheiras. “Triste”, resume a servidora, que viu a máquina de escrever chegar e partir no trabalho. Atualmente, ela acompanha os papéis, aos poucos, irem embora com a chegada do programa São Paulo sem Papel. E agora, pouco antes de sua aposentadoria, vive um momento que jamais imaginou: o isolamento social.

De todas as lembranças que Rose têm, sem dúvida, uma ela vai levar para a vida: o momento em que o nome de sua filha foi chamado para receber o diploma. A formatura aconteceu há pouco menos de um ano.

Ao contar toda a história de realização do sonho da nova veterinária, que também era o seu, os olhos da oficial administrativa encheram de lágrimas. Ela afirma, categoricamente, que foi por meio da SAP, do seu trabalho, e com a ajuda do marido,comerciante, que hoje ela é uma mãe tão realizada. Com a voz embargada pelo choro de satisfação, relembra como foi ver Mariana usando a beca:

“Não era um dia qualquer e estava longe de ser. Era um dia aguardado por pouco mais de cinco anos. As lágrimas não couberam nos meus olhos e o coração não cabia no meu peito. Minha menina havia concluído o curso”.

A jornada dos últimos cinco anos tinha chegado ao fim. E Rose sabia que todos os esforços para pagar os estudos da filha valeram a pena. “Tenho muito orgulho de ter conseguido pagar a faculdade da minha filha e vê-la conquistando os espaços na profissão é extremamente gratificante. Não teria conseguido, se não pelo meu trabalho e a ajuda do meu esposo”, finaliza a servidora.

Para Rose resta um coração agradecido: Mariana cresceu, se formou, tem uma profissão. Rose evoluiu, aprendeu usar a máquina de datilografia, o computador e o programa Sem Papel. Agora ela está esperançosa, aguardando que a sua aposentadoria chegue, que a pandemia passe, e que ela possa voltar a abraçar os colegas, gesto que fez em quase três décadas na SAP.

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