24/01/20 | Mariana Amud - Coremetro
Projeto Mulheres Possíveis possibilitou encontros semanais que deram origem à obra com textos, fotos e ilustrações
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Corpo, gênero e encarceramento são tema de livro escrito por reeducandas da PFC dentro do Projeto Mulheres Possíveis
A reeducanda Mônica Guzman esteve presente no lançamento do livro realizado no Itaú Cultural - Créditos Ierê Papá
Roda de conversa e lançamento de livro ocorrido dentro da Penitenciária Feminina da Capital
Desde 2016, a Penitenciária Feminina da Capital (PFC), recebe, semanalmente, o projeto “Mulheres Possíveis”. A iniciativa trabalha temas como gênero, corpo e encarceramento a partir de diferentes linguagens - artes visuais, música, performance, teatro e escrita. O estabelecimento penal é administrado pela Coordenadoria de Unidades Prisionais da Região Metropolitana de São Paulo (Coremetro), subordinada à Secretaria da Administração Penitenciária (SAP).
O grupo voluntário responsável pelo projeto, formado por Beatriz Cruz, Leticia Olivares, Sandra Ximenez, Vânia Medeiros e demais convidados, proporcionou, de outubro de 2018 a julho de 2019, o que chamaram de “laboratórios de criação”. A ação contou com o apoio SAP, da Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania (CRSC) e do programa Rumos Itaú Cultural 2017-2018.
A partir de troca de cartas, oficina culinária e de um laboratório de performance e criação, as 50 participantes do projeto narraram trivialidades e situações complexas de suas vidas, medos e esperanças que deram origem ao livro “Mulheres Possíveis: Corpo, Gênero e Encarceramento”. A publicação foi lançada dentro da PFC no início de dezembro e no Itaú Cultural, localizado na Avenida Paulista, em 15 de dezembro de 2019.
Entre cartas e comidas
Dentre as atividades propostas pelo “Mulheres Possíveis” foram realizados encontros culinários, proporcionados pela chef Govinda Lilamrta que, por meio das receitas vegetarianas, também falou sobre autonomia, cuidado e alimentação no cárcere. No escambo poético, as reeducandas trocaram cartas com um grupo de mulheres que estava fora da unidade prisional, elas não se conheciam e se propuseram a compartilhar histórias criando uma rede de amizade.
Cleide de Jesus se corresponde via cartas com E. desde julho e ambas perceberam na escrita partes de si que estavam adormecidas. E., que sempre gostou muito de falar, não sabia que também gostava de escrever e não economizava nas palavras. Igualmente, Cleide respondia com longas cartas. Assim, as duas usaram o projeto para “tirarem a cabeça da rotina”, comentou Cleide durante o lançamento do livro dentro da PFC.
Para Letícia, uma das organizadoras do Mulheres Possíveis, o projeto é uma oportunidade de “através da arte trabalhar as questões humanas, com uma troca enriquecedora para os dois lados”.