10/04/19 | Mariana Amud - Coremetro
Projeto com o tema Consciência Negra e Africanidades foi realizado como atividade de encerramento de semestre dos alunos do EJA
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Durante a produção das bonecas abayomis os presos conheceram a história desse trabalho
A professora do EJA, Tamyres Siqueira, explicou sobre o desenvolvimento do projeto com os presos
Diretor da Penitenciária, André Luiz Alves, participou da roda de conversa na Unifesp Guarulhos
Os milhares de quilômetros que separam o Brasil da África foram aproximados com a exposição “Africanidades – a beleza da África”, na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), campus Guarulhos, que contou com obras produzidas por presos do regime fechado da Penitenciária I “José Parada Neto”, do mesmo município, desenvolvidos a partir de projeto pedagógico da Educação de Jovens e Adultos (EJA), da escola vinculadora E.E. Francisco Antunes Filho.
A parceria entre a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) e a Secretaria de Estado da Educação (SEE) permite que, atualmente, mais de 1.760 reeducandos da Coordenadoria de Unidades Prisionais da Região Metropolitana de São Paulo (Coremetro) cursem o ensino formal dentro dos estabelecimentos ondem cumprem pena, com professores estaduais e diploma com o nome da instituição de ensino formadora.
História não contada nos livros
Durante todo o segundo semestre de 2018, cerca de 350 reeducandos, de 14 turmas da Penitenciária I de Guarulhos aprenderam, em aulas de diferentes disciplinas, mais sobre a história dos povos africanos que não é contada nos livros. A iniciativa dos professores do EJA rendeu trabalhos tão bem feitos que foram expostos na Unifesp de Guarulhos e gerou o debate “Relações étnico-raciais na EJA do sistema prisional”, entre docentes da universidade, diretoria da unidade prisional, professores da escola vinculadora e discentes.
As peças produzidas pelos reeducandos estiveram expostas em diferentes espaços da universidade. A maioria delas, como painéis, uma representação de um navio negreiro e as bonecas abayomi - historicamente feitas por mães e seus filhos, com pedaços de tecido de saias, durante as viagens nos navios negreiros -, ficaram no “aquário” na entrada na Unifesp.
Redescobrindo povos e culturas
A professora da E.E. “Francisco Antunes Filho”, Tamyres Siqueira, durante a roda de conversa que ocorreu na Unifesp de Guarulhos e reuniu dezenas de alunos interessados no tema, contou como foi o desenvolvimento do projeto desde o início. Ela falou das barreiras que enfrentaram ao explicarem pontos importantes da história do continente, como as religiões de matrizes africanas e o papel central da mulher na sociedade, por exemplo.
“O trabalho foi feito com base em inúmeras pesquisas e conversas, para que entendêssemos o pensamento e os pré-conceitos deles e até de alguns professores, sobre os temas abordados. Muitos não sabiam que a África é composta por diversos países, outros só conheciam a história dos africanos na situação de escravos. Foi a oportunidade de mostrarmos a riqueza desses povos”, explicou Tamyres.
No início e no fim do semestre os professores fizeram uma pesquisa com os reeducandos, perguntando qual a raça que se autodeclaravam. Segundo Tamyres, a maioria se identificou como pardo ou branco, poucos se definiram como negros. Após todas as aulas e o término do projeto a pesquisa foi repetida e o número de reeducandos que se identificaram como negros aumentou e, quando perguntados, alguns disseram que não conheciam a história do povo negro e a possibilidade de ter descendentes de origem africana.
Aproximação da sociedade
O Diretor da Penitenciária I “José Parada Neto”, de Guarulhos, André Luiz Alves, também esteve presente no evento e parabenizou o empenho dos professores, que se engajam em oferecer conteúdos de qualidade aos reeducandos que resultam em trabalhos como o exposto na universidade. Alves também participou da roda de conversa e aproveitou o espaço para agradecer o apoio dos docentes da Unifesp, que abriram o espaço para que a exposição acontecesse.
A Prof.ª Dr.ª Mariângela Graciano, docente de Pedagogia da faculdade, comentou a importância de trazer esses trabalhos para fora da unidade prisional como parte da responsabilidade das universidades públicas de estarem cada vez mais próximas da sociedade, divulgando pesquisas e abrindo seu espaço de conhecimento a todos.
Nas últimas semanas a exposição também ganhou espaço no Instituto Federal São Paulo – campus São Paulo e deve passar por outros campi da Unifesp, incluindo o prédio da Reitoria da instituição.