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21/02/19 | Marcus Liborio - CRN

Cresce número de presos no ensino superior em Bauru

Internos do regime semiaberto buscam oportunidades de ter um diploma e um recomeço na sociedade

Em tempos em que a ressocialização é um tema presente na sociedade, 12 reeducandos do regime semiaberto de Bauru, apesar de condenados e pagando por seus crimes, estão tendo a chance de reescreverem suas histórias. Matriculados em cursos de graduação, buscam não somente o diploma universitário, mas, principalmente, um recomeço de vida. Os dados apontam, inclusive, para um aumento do número de presos cursando faculdade: em 2017, eram dois e no ano passado, oito.

A mudança de cenário é atribuída a investimentos no setor educacional dentro das unidades e ao incentivo constante aos reeducandos pela busca e resgate do conhecimento.

Todos os 12 presos universitários são do Centro de Progressão Penitenciária “Doutor Alberto Brocchieri” I de Bauru. Do total, nove conseguiram acesso à faculdade por conta da nota obtida no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e assistem aulas presenciais em instituições de ensino superior de Bauru.

Caso do interno Luís Gustavo Galvão Fernandes, 38 anos, que cursa o 5º semestre de Direito. Preso em 2010 por tráfico de drogas, ele conta que enfrenta vários desafios para manter os estudos. Entre eles, a discriminação.

“Ainda existe muito preconceito com quem está preso, mas eu acredito que isso ocorre porque a sociedade ainda não está preparada para receber o egresso. Estamos em constante evolução e, neste momento importante político e social do País, creio que o preconceito diminuirá e a reinserção do preso será melhor e eficaz”, destaca.

Casado e pai de duas meninas, Luís Gustavo quer usar a sua experiência para ajudar quem vivenciou situação semelhante a dele. “Como advogado, pretendo auxiliar as pessoas que passaram pelos mesmos problemas que eu, tirando delas a sensação de insegurança jurídica e buscando penas mais justas”.

‘RECOMEÇAR COM DIGNIDADE’

“Para estar atualizado e voltar ao mercado de trabalho com força total”. A frase é do reeducando Marcos Alexandre de Araújo Souza, 37 anos, ao falar sobre o motivo que o fez entrar para a faculdade. Atualmente no 3º semestre de Recursos Humanos (RH), ele conseguiu emprego em uma empresa cuja função é treinar outros presos, selecionados pela companhia para ocuparem novas vagas. “Está sendo um sonho realizado”, afirma Souza.

Entre suas metas, projeta passar o Natal de 2020 com os filhos, em liberdade. “Quero ser referência de que, com esforço, dedicação, foco e respeito, mesmo com toda discriminação que existe, é possível mudar de vida e recomeçar, com dignidade, uma nova história”.

‘NÃO MEDIREMOS ESFORÇOS’

Diretor do Centro de Trabalho e Educação do CPP I de Bauru, João André Collela destaca que o aumento de presos com interesse em cursar faculdade se deve às ações realizadas dentro da unidade, como melhoria do espaço físico do setor de educação e o incentivo constante para que os reeducandos invistam nos estudos.

“No ensino superior não existe limite. Quem atende as demandas para ingressar na faculdade, não mediremos esforços para que isso aconteça. Vale salientar que a educação é transformadora. É perceptível a mudança dessas pessoas envolvidas no processo educacional. Nos dá a sensação de dever cumprido e que estamos no caminho certo”, finaliza.

Semiaberto: 407 presos nos ensinos fundamental e médio

Os presos têm acesso a curso superior porque podem concluir os ensinos fundamental e médio dentro das unidades prisionais, por meio das Escolas Vinculadoras – parceria entre as secretarias estaduais da Administração Penitenciária (SAP) e da Educação (SEE). O Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) e o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), por exemplo, são aplicados nos próprios presídios.

Atualmente, 185 presos do semiaberto em Bauru cursam o ensino fundamental, sendo 96 do CPP I e 89 do Centro de Progressão Penitenciária “Doutor Eduardo de Oliveira Vianna” II. No ensino médio são 222 reeducandos, sendo 90 do CPP I e 132 do CPP II.

“Vejo a escola como uma ótima oportunidade para ter um futuro melhor. Vai abrir muitas portas quando eu ganhar a liberdade”, ressalta o interno Marco Antônio Souza Reis, 27 anos, que cursa o 1º ano do ensino médio na unidade prisional.

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