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10/10/17 | Sonia Pestana – Coremetro

Horta da Penitenciária de Parelheiros reflete união de esforços entre servidores e sentenciados

Após um ano de trabalho, a unidade prisional colhe as primeiras verduras da horta e o projeto “Nova Semente” revelou ser uma lição de união e aprendizado para a vida

Há muito que se diz que para a necessidade não existem barreiras. Foi com essa realidade que a Penitenciária “ASP Joaquim Fonseca Lopes”, de Parelheiros, em São Paulo, teve de lidar. De um lado a autogestão na área de alimentação, cobrando uma ação imediata e precisa para o fornecimento de refeição saudável aos servidores e sentenciados, e de outro uma área intramuros de 2.160 m², disponível para o plantio e ideal para a instalação do projeto “Nova Semente - Plantando um Futuro Sustentável”.

A penitenciária encarou os desafios para a implantação do projeto. Segundo o diretor da unidade prisional, Marcos Simioni Júnior, havia muito que fazer para viabilizar a ousada ação. Assim, para uma melhor visualização do grande passo, a direção optou por visitar outras hortas na região, reunindo documento rico em detalhes das estruturas montadas.

Para que a “Nova Semente” pudesse ser colocada em prática havia ainda um obstáculo a ser vencido: sensibilizar o corpo funcional para o importante acontecimento. De forma natural, servidores com formação especial foram aderindo à ação. De acordo com o diretor, aos poucos as etapas foram sendo vencidas, assim como a seleção de sentenciados capacitados para cada etapa da implantação do projeto, da construção de estufas ao plantio de verduras.

A direção da unidade avalia que o projeto da horta revelou ser uma ferramenta importante para que o sistema de autogestão na alimentação, implantado na penitenciária desde novembro de 2016, fosse bem-sucedido. Para Simioni Júnior, a iniciativa possibilitou a produção de verduras e hortaliças no entorno do estabelecimento penal, contribuindo para uma significativa melhoria no cardápio, com reflexos positivos também na economia dos recursos financeiros e, de quebra, com ganhos na questão de ressocialização, já que os sentenciados envolvidos têm direito à remição de pena pelos trabalhos prestados, o que representa um dia a menos para cada três de trabalho.

União de esforços

O projeto exigiu a união dos esforços de funcionários e de cerca de 15 sentenciados. Juntos, eles arregaçaram as mangas e trabalharam ombro a ombro. Simioni Júnior revelou que alguns servidores tomaram a frente em tarefas pontuais, a exemplo da construção das estufas, que contou com as orientações do Agente de Segurança Penitenciária (ASP) Frederico Conrado Daenekas. A parte da instalação da rede hidráulica, necessária para a irrigação das plantas, foi idealizada pelo funcionário José Claudio Damasceno. Já a instalação elétrica esteve a cargo do ASP João Alves de Miranda, que encarou sozinho o desafio.

Quanto ao serviço de preparo dos canteiros, que envolveu todo trato com a terra, incluindo adubação orgânica, ficou com a dupla de ASPs Gesiel dos Santos Feliciano e Artur Fumio Hara. Juntos, eles capacitaram os sentenciados para a preparação do solo, plantio, irrigação e, futuramente, a colheita. Nessa etapa do preparo da terra para o plantio foram utilizados dois caminhões de esterco animal, além de cerca de 800 kg de compostagem orgânica, produzida na própria unidade, sem contar com o húmus, vindo do minhocário, implantado a partir do lixo orgânico produzido no estabelecimento penal.

Hoje o resultado dessa união de esforços pode ser visto na área de 1.115 m², onde foram estruturadas cinco estufas com 5,30 metros de largura por 40 metros de comprimento e que estão voltados para o plantio. Outra estufa de mesma largura, contudo com apenas 10 metros de comprimento, foi feita para servir como viveiro de mudas. Os cálculos apontam para uma capacidade de produção das estufas em torno de 5 mil pés de hortaliças a cada 35 dias.

Na etapa do plantio, os canteiros receberam mais de 4 mil mudas, diversificadas entre alface lisa, crespa e americana, rúcula, acelga, almeirão e catalonia, além de de salsa e cebolinha, que exigem o trabalho diário de 10 sentenciados para a manutenção do espaço. A tão esperada primeira colheita ocorreu no dia 14 de setembro com a distribuição de 150 pés de alface para cada um dos dois pavilhões e 30 para o refeitório dos servidores.

Simioni Júnior disse que o momento da colheita foi emocionante. “Pude notar a satisfação dos servidores envolvidos no projeto e dos sentenciados. Foi grande a alegria de tirarem da terra aquelas alfaces gigantes, verdinhas, e o melhor, saber que na hora do almoço iriam degustar de algo plantado e cuidado por eles dia a dia”, relatou.

Para ele, ver a produção das estufas tão verdes e saudáveis foi um verdadeiro espetáculo, principalmente porque foram cultivadas totalmente sem agrotóxicos. “Depois de muita luta, o sonho se torna realidade”, falou com emoção. De acordo com o diretor, o projeto foi desenvolvido dentro da forma prevista, contando com a ajuda de todos. Tornou-se assim uma lição de união, um bom aprendizado para a vida que promete ampliação ainda para este ano e a implantação de irrigação com água de reuso, proveniente da chuva.

A iniciativa teve apoio da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), por meio das Coordenadorias de Unidades Prisionais da Região Metropolitana de São Paulo (Coremetro) e de Reintegração Social e Cidadania (CRSC).

aasassa
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