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20/09/17 | Amanda de Oliveira – CRC

Reeducandos digitalizam negativos do Instituto de Sorocaba

Mais de quatro mil registros fotográficos foram recuperados em menos de um ano

Dois presos da Penitenciária “Dr. Danilo Pinheiro”, Sorocaba I, estão fazendo uma ação voluntária para o Instituto Histórico Geográfico e Genealógico de Sorocaba (IHGGS). O trabalho deve restaurar uma quantidade incontável de negativos que foram registrados entre as décadas de 1940 e 1980. A restauração acontece por meio de digitalização durante as horas livres dos presos e cerca de 50 negativos são recuperados por dia. O resultado da boa ação são de 4 mil registros fotográficos recuperados em menos de um ano.

De acordo com o professor de história e presidente do instituto desde 1989, Adilson César (69), é impossível saber quantos negativos há. “Os registros épicos estavam se deteriorando por causa do tempo, e percebemos a necessidade da restauração. O problema seria a falta de verba, uma vez que um trabalho assim ficaria muito caro, por causa da quantidade de arquivos”, diz César.

Imagens de militares, casamentos, formaturas e do primeiro estádio de futebol da cidade, fazem parte do acervo. Para começar esse processo de digitalização, o IGGHS contou com a ajuda de uma loja maçônica que doou o scanner e do diretor da Penitenciária, Edézio José Júnior (46), que cedeu dois detentos para a mão de obra.

“A disponibilidade dos presos para fazer esse trabalho é de suma importância não só para o instituto, mas também para os próprios detentos, pois eu acredito que o trabalho é fundamental para a ação humana, pois traz autoestima e o preso se sente valorizado. Funciona como alicerce para o recomeço”, afirma César.

Para o diretor da unidade, o trabalho dos presos contribui com o resgate da história de Sorocaba e mostra que o processo de reinserção na sociedade está dando tão certo, que os encarcerados se empenham nesse trabalho, mesmo não recebendo benefícios de remição de pena. Eles são voluntários apenas pela satisfação de fazer o bem e resgatar a história de pessoas que eles nem conheceram. “Os sentenciados fazem a ação por boa vontade. Na penitenciária eles desenvolvem um trabalho laborterápico no setor de inclusão e são beneficiados com a remição pela atividade que desenvolvem. A restauração das imagens é feita apenas nas horas livres e não permite diminuição de pena”, afirma Júnior.

Condenados a mais de 10 anos de prisão, os reeducandos têm bom comportamento e trabalham na penitenciária há cerca de dois anos. Atualmente auxiliam os funcionários no setor de inclusão. J.C.S.C. (38), diz se divertir com a nova ocupação e lamenta não poder fazer com mais rapidez, por falta de tempo. “É muito satisfatório fazer esse trabalho voluntário. Fico olhando as fotos e imaginando quem foram aquelas pessoas. Mas o que mais me chama atenção são as imagens de formaturas nas escolas. Vejo como tudo mudou. A gente nem canta mais o hino nacional. Antes era tudo com mais respeito”, relembra o detento.

D.P.S (45), ainda não conhece o IGGHS pessoalmente, mas sonha em conhecer o local que ele orgulhosamente está ajudando a salvar as lembranças. “Hoje me sinto parte de um lado bom da vida de muita gente. Farei o máximo que puder para recuperar essas fotos e quero muito um dia ter a oportunidade de conhecer o Instituto”, revela.

O Instituto

O IHGGS de Sorocaba foi fundado no período das comemorações do ano de 1954 – IV Centenário da Cidade de São Paulo e III Centenário da Cidade de Sorocaba. Os ânimos estavam propensos à preservação e recuperação da história e da memória. Seu fundador, Padre Castanho, conseguiu reunir um grupo de personalidades para concretizar a maior obra de sua existência: a criação do Instituto. Essa Instituição nos moldes da primeira do Brasil – O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838) e os estaduais, que logo o seguiriam, estavam destinados a escrever nossa história e com isso moldar a fisionomia do Estado Brasileiro dando uma identidade cultural aos seus cidadãos. A história de Sorocaba e região criada e divulgada sob a sua égide servem ainda hoje como modelo indelével para a essência do “ser sorocabano”.

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