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13/09/17 | Sonia Pestana – Coremetro   Fotos: Laiane Liboni

A arte como instrumento de ressocialização

Presos encenam adaptação de “Morte e Vida Severina” dentro do Circuito Jurídico de Guarulhos

Do cenário ao figurino, passando pela atuação feita com emoção, tudo indicava que o público presente na Penitenciária “Desembargador Adriano Marrey”, de Guarulhos II assistiria à mais profunda e verdadeira adaptação do poema de João Cabral de Melo Neto, “Morte e Vida Severina”. A encenação foi feita no dia 30 de agosto pelo grupo teatral da unidade e contou com 35 reeducandos, entre atores, músicos e coral. O espetáculo faz parte do VII Circuito Jurídico de Guarulhos de Políticas Públicas para um Brasil Melhor, promovido pelo Centro Universitário Metropolitano de São Paulo FIG/Unimesp.

O grupo de teatro “Do Lado de Cá”, criado em 2011 nos corredores da Penitenciária tem em sua trajetória, 14 encenações com os mais variados enfoques, desde temas conturbados e sérios, até abordagens leves e divertidas. Para este ano, a escolha recaiu sobre o sofrimento enfrentado pelo personagem Severino e retrata a luta do retirante nordestino em busca de uma vida melhor. Os muitos Severinos retratados têm em comum um inimigo implacável: a morte.

Com foco em ações de ressocialização, a Penitenciária “Adriano Marrey” vem diversificando as apresentações artísticas e colhendo resultados positivos, segundo os propósitos a que se destinam. Para o diretor da penitenciária, Antonio Samuel de Oliveira Filho, todos os envolvidos participam de forma voluntária, sejam servidores ou sentenciados e isso faz toda a diferença.

Para o Agente de Segurança Penitenciária (ASP) e diretor do grupo de teatro, Igor Rocha, o envolvimento do preso com a arte pode facilitar seu recomeço de vida. De acordo com ele, todo projeto desenvolvido na unidade é qualitativo e não quantitativo. “Temos de lidar com seres humanos que não cumpriram regras lá fora, por isso a preocupação de contar com presos comprometidos com seus objetivos e que não desistam dos sonhos, porque a liberdade não tem preço”, garantiu.

C.V. é um dos sentenciados atuantes no teatro e, para ele, participar do projeto é algo marcante porque significa um recomeço em sua vida. “Quando venho para os ensaios de teatro fico focado em arte e a minha mente abre para outros horizontes”, disse. “Hoje, por exemplo, me senti um Tony Ramos da vida e por isso vou guardar esses momentos bons que passei na prisão”.

Já para M.R.C.A., que está preso há 23 anos, o teatro significa começar. Segundo ele, uma ação leva à outra e foi assim que chegou às aulas de teatro. Assíduo participante dos clubes de leitura da penitenciária, o sentenciado garantiu que atualmente é um prisioneiro dos textos e não mais das grades.

Para ele, o longo tempo que passou preso é uma perda irreparável, mas garante que está decidido a reconstruir sua vida e superar essas dificuldades. Quando em liberdade estão em seus planos o trabalho e o estudo.

Apoio e homenagens

Parceiros de longa data, união que já dura 10 anos, a Penitenciária “Desembargador Adriano Marrey” e a FIG/Unimesp construíram uma relação sólida de sucesso. O apoio da instituição de ensino superior está presente nas ações jurídicas, educacionais e culturais da unidade prisional.

O Circuito Jurídico deste ano homenageou personalidades na região e estendeu o reconhecimento pelo bom trabalho, aos servidores da penitenciária. A coordenadora do curso de direito da entidade, Ossanna Chememian Tolmajian, homenageou os diretores Antonio Samuel de Oliveira Filho e Valdinei Araújo de Freitas (Trabalho e Educação). Também receberam o merecido reconhecimento, o psicólogo Marco Antonio Leite e os ASPs Domingos Dudlei Menetti, Igor Rocha e Mário Jorge Antunes.

Há 50 anos a FIG-Unimesp atua na área educacional da cidade de Guarulhos, com 25 cursos de bacharelado, licenciatura e tecnólogo, além de pós-graduação em diversas áreas. Segundo Ossanna, a instituição promove inúmeras ações de cidadania.

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